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Projeto

publicado 10/12/2020 10h12, última modificação 18/12/2020 12h34

Você sabia que a vegetação existente no entorno das redes elétricas pode interagir com os seus componentes e causar interrupções no fornecimento de energia?

Neste site, divulgamos assuntos e resultados obtidos do projeto de pesquisa “Vulnerabilidade da Vegetação”, que busca desenvolver uma metodologia experimental de manejo da vegetação para a redução de interrupções de energia, causadas por queda de árvores e de custos associados à manutenção das faixas de servidão localizadas nos estados do Pará e Maranhão, especificamente as linhas de distribuição de 69 kV e 138 kV.

Financiado pelo Grupo Equatorial Energia (CELPA e CEMAR), o Projeto é realizado pelo Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e a Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (UEMASUL). Os recursos do Projeto são gerenciados pela Fundação Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (FADESP) e pela Fundação Sousândrade de Apoio ao Desenvolvimento da Universidade Federal do Maranhão (FSADU).

Você sabe o que são as linhas de transmissão e de distribuição?
As linhas de transmissão e de distribuição são utilizadas para o transporte de energia elétrica, mas possuem funções diferentes.
As linhas de transmissão são aquelas que operam com tensão mais alta. Por sua vez, as linhas de distribuição possuem a tensão intermediária.
O Projeto “Vulnerabilidade da Vegetação” está focado nas linhas de distribuição.


ÁREAS DE ATUAÇÃO DO PROJETO

A equipe desenvolverá uma metodologia para manejo da vegetação nas faixas de servidão das linhas de distribuição e em seu entorno, nos estados do Pará e do Maranhão. Esses estados apresentam diferentes cenários climáticos e de vegetação, possuindo áreas que se inserem nos biomas Amazônia e Cerrado.

De maneira geral, o crescimento da vegetação depende das condições ambientais de cada local, como a chuva, a temperatura, o vento e o solo. Portanto, espera-se que a vegetação das linhas de distribuição implantadas nos estados do Pará e Maranhão também varie em função dessas condições ambientais.

METODOLOGIA 

Vamos explicar a metodologia que empregamos e as etapas realizadas.

Etapa 1: Análise ambiental para selecionar áreas para o estudo

Para definir as áreas que seriam amostradas em campo foi realizada uma análise ambiental das áreas abrangidas no Pará e Maranhão e definição dos locais amostrados em campo. Para este estudo foi utilizado a Análise de Componentes Principais (PCA), com o objetivo de verificar quais ambientes são mais semelhantes entre si e a localização desses ambientes nos dois estados.

Os dados espaciais utilizados na Análise de Componentes Principais (PCA) foram extraídos das bases WorldClim - Global Climate Data  e SoilGrids - global gridded soil information. Selecionamos para a análise um conjunto de 12 variáveis de clima e solo (precipitação, temperatura, fração de argila, etc.), que em geral são as que mais influenciam na distribuição da vegetação. O pressuposto é que as áreas mais semelhantes entre si deverão ter uma vegetação similar e apresentar respostas da vegetação também similares, em termos de risco de queda de árvores ou custos de manutenção da faixa de servidão. E, com base no agrupamento dos ambientes, estão sendo selecionadas, para os levantamentos em campo, áreas representativas das diferentes tipologias ambientais encontradas.

Sobre a Análise de Componentes Principais (PCA):
É uma técnica de análise multivariada, utilizada para reduzir o número de dimensões representadas pelo conjunto das variáveis independentes de um estudo. A partir desses dados é possível sintetizar as informações e representar os padrões existentes no conjunto de variáveis incluídas.

 

Etapa 2: Levantamentos em campo da vegetação e variação ambiental nas faixas de servidão e linhas de distribuição

Os levantamentos objetivam a caracterização ambiental e biológica da faixa de servidão e seu entorno. Na amostragem da faixa de servidão são registradas todas as espécies de plantas encontradas. Já em seu entorno, a vegetação é amostrada em parcelas. Em todas as amostragens são anotadas a largura da faixa de servidão e sua localização (pela numeração da torre da linha e por GPS). Além da coleta de amostras de solo para serem analisadas em laboratório.

Etapa 3: Análise dos custos de manutenção das linhas de distribuição

Obtivemos junto às empresas fornecedoras de energia elétrica informações sobre os custos de manutenção da faixa de servidão. A partir da sua localização e das características ambientais de cada lugar, é realizada uma análise para conferir se é possível prever os custos com base nas condições ambientais. Para isso, são utilizados modelos lineares generalizados.

RESULTADOS PRELIMINARES OBTIDOS

Análise ambiental para selecionar áreas para o estudo

A metodologia utilizada possibilitou a compreensão das diferentes regiões ambientais e contribuiu para a definição de conjuntos representativos de áreas para a amostragem nos estudos.

Observe na imagem abaixo, que identificamos a existência de áreas com um conjunto de variáveis ambientais presentes apenas no sul do estado do Maranhão (coloração avermelhada) e áreas que são predominantes do estado do Pará (representadas em azul e amarelo):


As amostragens foram conduzidas em oito linhas de distribuição de energia elétrica, localizadas em 10 municípios dos estados do Pará (Aurora do Pará, Concórdia do Pará, Ipixuna do Pará e Tomé-Açú) e do Maranhão (Carolina, Estreito, Montes Altos, Porto Franco, São João do Paraíso e São Domingos do Capim), como demonstrado no mapa seguinte.


VARIEDADE DA VEGETAÇÃO ENTRE OS ESTADOS DO PARÁ E MARANHÃO

Com áreas que se inserem nos biomas Amazônia e Cerrado, em diferentes proporções, os estados do Pará e do Maranhão apresentam diferentes cenários climáticos e de vegetação. É possível verificar as diferenças no mapa de vegetação a seguir. Observe a categorização no quadro de legenda.

 

No estado do Pará, por exemplo, há um predomínio de Floresta Ombrófila Densa, seguida de Floresta Ombrófila Aberta (veja a representatividade das cores na legenda do mapa). Esses tipos florestais são caracterizados por uma vegetação perene, em áreas onde ocorrem chuvas frequentes e abundantes, como no Bioma Amazônia, assim como na Mata Atlântica que ocorre em outras partes do Brasil.

No Maranhão, por sua vez, predomina Savana na porção Sul do estado. Já na porção Oeste do estado maranhense, na região de contato com o Pará, existe o domínio de Floresta Ombrófila, sendo lá onde se estende a porção do Bioma Amazônia presente no Maranhão.

A vegetação predominante em cada estado é devido as diferenças nos fatores climáticos, como a pluviosidade, além do tipo e composição do solo, motivo pelo qual esse estudo leva em consideração diversas variáveis ambientais.

PRIMEIRAS DESCOBERTAS

A equipe de pesquisa realizou uma amostragem piloto, no qual foi refinado o protocolo de amostragem da vegetação, de solo e de fungos micorrízicos. Como resultado, foram obtidas 73 amostras de solo, sendo 40 no Pará e 33 no Maranhão. As coletas foram realizadas na faixa de servidão e no entorno das linhas, para acompanhar a caracterização da flora da área.

Em relação as plantas, foram coletados 1.489 registros nas áreas de estudo. Desse material, 186 espécies foram identificadas até o momento. As coletas foram realizadas na vegetação do entorno das linhas. No Pará, a predominância foi de espécies amazônicas, enquanto no Maranhão predominaram as espécies de cerrado/cerradão ou de ampla distribuição.

Não foram detectadas árvores de grande porte na vegetação do entorno que poderiam atingir as linhas visitadas e causar a interrupção de energia. O que indica o baixo risco de acidentes dessa natureza em tais áreas.

O material coletado ainda passará por diferentes processos, dentre os quais estão a análise das amostras de solo; a extração, fixação e identificação de fungos micorrízicos, a organização de um banco de dados da vegetação e a elaboração de um mapa das coordenadas geográficas das coletas.

ESPÉCIES EM DESTAQUE PARA O POSSÍVEL MANEJO

Calopogonium mucunoides

O Calopogonium muconoides é uma leguminosa forrageira perene e originária da América do Sul. Essa espécie foi registrada em algumas áreas do Pará e tem sido utilizada como cobertura do solo em áreas agrícolas. O objetivo dessa prática é manter a umidade do solo, além de evitar sua erosão e degradação, decorrentes da exposição do mesmo em função da retirada da cobertura de vegetação natural da área para o plantio.

Além disso, a utilização da Calopogonium muconoides serve também para o controle do crescimento de plantas espontâneas. Essa é a mesma situação das faixas de servidão das linhas de distribuição. Então, é possível que esta espécie seja útil no manejo dessas áreas, reduzindo o crescimento de outras plantas que levam a necessidade de uma limpeza frequente.

Fungos Micorrízicos

Existem diversos microrganismos que compõem o solo, entre eles os Fungos Micorrízicos Arbusculares (FMAs)*. São grupos funcionais de fundamental importância, por formarem associações simbióticas mutualísticas com raízes de plantas.

A relação mutualística entre fungo e planta colabora para a ciclagem dos nutrientes, absorção de minerais de baixa mobilidade no solo, como P, Zn e Cu. Além de favorecer a disponibilidade de N. Essa associação fungo-raiz ocorre na maioria das espécies vegetais.

Desse modo, os fungos proporcionam benefícios para as plantas, como o aumento no crescimento da parte aérea e do potencial reprodutivo. Em contrapartida, as plantas retribuem fornecendo aos fungos carbono e fatores essenciais para o seu desenvolvimento e reprodução.

O estudo dos fungos presentes no solo, acompanhado das análises físico-químicas do solo, amplia o leque de opções sobre o manejo adequado da vegetação nas faixas de servidão.

 

* Na imagem, da esquerda para a direita, espécies de Fungos Micorrízicos Arbusculares: Scutellospora sp2; Glomus macrocarpum; Glomus sp2; Fuscutata aurea; Dentiscutata scutata e Glomus sp4 (Fonte: LEONEL; LIMA, 2020).