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Emília Snethlage – Pioneira das ciências na Amazônia

Além de ser a primeira mulher a dirigir uma instituição científica na América do Sul, Emília desbravou a Amazônia para estudar aspectos naturais e humanos da região. Ela é o personagem símbolo com o qual o Museu Goeldi homenageia todas as mulheres neste 8 de março
publicado: 08/03/2017 18h00, última modificação: 15/02/2018 16h08

Agência Museu Goeldi – Protagonista na atividade científica e na direção de institutos no continente americano, a ornitóloga alemã Emília Snethlage nasceu em Brandenburgo, ao norte de Berlim, em 1868, e fez a diferença na história da Amazônia no século XX. Fez parte da célebre equipe do naturalista Emílio Goeldi no Museu Paraense e sucedeu ao botânico suíço Jacques Huber na direção da instituição na véspera da 1ª Guerra Mundial, sofrendo perseguições por ser mulher e de origem germânica.

Emília Snethlage, de pé, à direita, com funcinários do que hoje é o MPEGEmilia Snethlage atuou como preceptora, ou professora particular de crianças, a partir dos 22 anos e entrou na Universidade de Berlim em 1899, com mais de 30 anos. Estudou também nos cursos de História Natural das Universidades de Jena e Freiburg e em 1904 tornou-se doutora em Ciências pela Universidade de Freiburg, com estudos sobre a origem da inserção da musculatura nos insetos. Na época, as instituições alemãs começavam a aceitar a matrícula de mulheres em seus cursos, pressionadas por movimentos de defesa dos direitos femininos.

Começando a trabalhar como assistente de zoologia do Museu de História Natural, em Berlim, em 1905 e, sob orientação do ornitólogo Anton Reichenow (1847-1941), ficou sabendo sobre vaga de emprego no então Museu Paraense de História Natural e Ethnographia, atual Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), em Belém do Pará, Brasil, para onde se mudou ainda em 1905.

No Museu Paraense, Snethlage começou a desenvolver inúmeros trabalhos de campo em expedições científicas pela Amazônia para a coleta de espécimes. Entre as suas viagens de maior destaque, tem-se a travessia entre os rios Xingu e Tapajós, realizada em 1909, na qual Emília contou apenas com a companhia dos indígenas locais em uma região que naquela ocasião ainda não havia sido cartografada, encontrando, entre outras surpresas, uma serra granítica aproximadamente 500 metros de altura, que teve que ser ultrapassada com poucos recursos. Com suas anotações sobre esta viagem, a cientista pode registrar o traçado do curso do rio Jamanxim, principal tributário da margem direita do Tapajós, e publicar um vocabulário comparativo dos índios Chipaya e Curuahé.

Outro trabalho seu de destaque foi o Catálogo de Aves Amazônicas, publicado em 1914 em um volume com 530 páginas, que inventariava 1.117 espécies. A obra pretendeu reunir todas as espécies de aves da região descritas e mencionadas na literatura científica até o ano de 1913 e serviu de referência aos estudiosos da ornitologia brasileira durante 70 anos.

No período que passou no Pará, Emília vivenciou diferentes contextos institucionais e políticos. Viveu a projeção científica internacional das pesquisas realizadas pelo atual Museu Goeldi e a grande popularidade de seus acervos e Parque Zoobotânico europeizado junto ao público - tudo financiado pela riqueza da economia da borracha. Enfrentou também a morte prematura do então diretor Jacques Huber (1867-1914), o que a levou a ser a primeira mulher a dirigir uma instituição científica na América do Sul.

Permaneceu como diretora até 1917, quando o Brasil declarou guerra à Alemanha, sendo readmitida no cargo em 1919, período de decadência da economia regional que teve forte impacto na instituição. Seu trabalho tornou-se insustentável em 1921, quando foi acusada, dentre outras coisas, de desviar alimentos dos animais para reparti-los entre os funcionários mais necessitados: teria agido "como mulher" quando se esperava que não fosse "emocional" e fizesse o "trabalho de um homem" de manter a ordem.

Em 1922, Emília aceita a proposta do diretor do Museu Nacional do Rio de Janeiro, e é transferida para aquela instituição para ocupar o cargo de naturalista viajante. A serviço da instituição, realizou inúmeras viagens científicas pelo Maranhão, Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia, Paraná, Rio Grande do Sul, Argentina e Uruguai, além de percorrer um longo trecho do rio Araguaia. Em 25 de novembro de 1929, Snethlage falece em Rondônia, durante uma de suas viagens científicas, tendo como causa da morte um ataque cardíaco.

Fontes:
Portal Museu Goeldi, Biografias

Emilia Snethlage (1868-1929): uma naturalista alemã na Amazônia - Miriam Junghans

Emília Snethlage (1868-1929): o heroísmo como estratégia de legitimação da ciência - Miriam Junghans