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Agência de Notícias

Museu Goeldi impulsiona conhecimento sobre a biodiversidade com 301 novas espécies

Pesquisadores do Goeldi ampliam o conhecimento sobre animais, plantas e fungos até então desconhecidos para a ciência, especialmente na Amazônia. A informação sobre a diversidade biológica é estratégica para a gestão ambiental, pesquisas econômicas e socioambientais. No século 21, foram mais de 587 novas espécies.
publicado: 01/04/2019 16h50, última modificação: 03/04/2019 14h31

Agência Museu Goeldi – Estudos de campo, desenvolvimento de tecnologias de informática e de análise em laboratório impulsionam o reconhecimento de novas espécies de animais, plantas e fungos. E, nesse tema em particular, a contribuição dos pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi é notória: somente nas primeiras décadas do século 21, foram mais de 587 espécies novas e, desse total, 301 foram apresentadas para a ciência entre 2014 e 2018. Nos últimos cinco anos, os cientistas identificaram 183 novas espécies de invertebrados, 58 plantas, 20 peixes, 18 anfíbios, 14 répteis, cinco fungos e três mamíferos.

“A Amazônia brasileira é uma das áreas com menor densidade de coleta de exemplares biológicos no mundo, e isso explica a taxa ainda relativamente alta de descoberta de novas espécies. Grande parte do que hoje é conhecido está concentrada em material originado de áreas próximas a cidades grandes ou a centros de pesquisa, onde as condições logísticas e a existência de pesquisadores para analisar o material coletado agiliza a pesquisa. Ainda há enormes vazios de coleta e muitos locais e ambientes praticamente inexplorados pela ciência. Chegar a esses locais e desvendar essa biodiversidade ainda será um desafio para muitas gerações”, explica a diretora do Museu Goeldi, Ana Luisa Albernaz.

Nesta segunda-feira (01), o Museu Goeldi lançou a edição temática do informativo Destaque Amazônia, que reúne a lista completa das 301 espécies descobertas pelos seus pesquisadores e colaboradores entre 2014 e 2018. A frequência desse trabalho nos últimos cinco anos resulta em mais de 60 espécies novas por ano, cinco a cada mês ou uma por semana. O Destaque Amazônia pode ser acessado na íntegra em nosso Portal.

Ganhos – A catalogação das espécies até então desconhecidas é um importante avanço para a ciência. Com as descobertas de novas formas de vida, por exemplo, pode-se saber mais sobre os processos evolutivos de animais, plantas e fungos, compreender as diferenças entre espécies do mesmo gênero, reconhecer quais delas apresentam maior relação entre si – inclusive do ponto de vista genético –, assim como entender a posição de cada espécie em relação aos antepassados.

“Esse é o aspecto prático do nosso trabalho, digamos. A gente permite que o conhecimento possa, a partir dali, ser acumulado com outros tipos de informação”, explica o doutor em Biologia, Alexandre Bonaldo, pesquisador da área de sistemática de aranhas e ecologia de aracnídeos amazônicos e atual coordenador de Pesquisa e Pós-Graduação do Museu Goeldi.

Os resultados também favorecem a realização de novos estudos empenhados em revelar diversos aspectos sobre o funcionamento (fisiologia) dos organismos, o comportamento e a relação dessas espécies entre si, assim como as interações delas com outras e com os ambientes em que vivem, entre outras possibilidades.

Com base nos locais em que a biodiversidade é considerada única (conhecida como endêmica), rara ou ameaçada de extinção, as pesquisas podem ajudar ainda a definir estratégias para a proteção desses ecossistemas, propondo unidades de conservação ou conectando mosaicos de paisagens, por exemplo. Para a indústria da biotecnologia, é fundamental o conhecimento sobre as propriedades bioquímicas de determinadas espécies, com potencial de revelar substâncias inéditas para a formulação de remédios, cosméticos, hormônios, defensivos agrícolas etc.

Tabela Novas Espécies

Descobertas, ameaças e destruição das espécies – Em 2014, um artigo na revista Science demonstrou que a taxa atual de extinção de espécies de plantas e animais em todo o planeta é mil vezes maior que a taxa natural – que corresponde às médias de perdas decorrentes dos processos naturais na escala do tempo evolutivo do planeta. Se forem considerados o avanço da destruição dos ecossistemas e a quantidade de espécies ainda não reconhecidas pela ciência, os números são ainda mais alarmantes.

“Norman Platnick, pesquisador que coordena a rede internacional de pesquisa da qual eu participo, calculou o ritmo de descrições de espécies no decorrer da história, concluindo que se a gente continuar no mesmo ritmo de descrição dos anos de 1950 até aqui e, se realmente houver 180 mil espécies de aranhas no planeta, vai demorar ainda 650 anos para descrever todas. Ou seja, é necessário aumenta a velocidade de descrição das espécies até porque os bichos se extinguem mais rapidamente do que a nossa capacidade de conhecê-los. A destruição dos habitats faz com que muitas espécies desapareçam antes mesmo de terem um nome, antes de serem conhecidas pela ciência”, alerta Bonaldo, curador da coleção de aracnídeos e atual coordenador de pesquisa e pós-graduação do Museu Goeldi.

Alexandre Bonaldo conta que só em 2013 foram mais de 100 novas espécies de aranhas. De 2014 em diante, o pesquisador atuou na descrição de mais 141 espécies. Nos últimos 11 anos, somente para uma família de aranha, os números de descrições subiram de 472 espécies em 68 gêneros para 1.807 espécies em 115 gêneros.

Uma das explicações para o considerável aumento das descobertas é o surgimento de novas linhas de pesquisa e o investimento na formação de recursos humanos, pois, muitas dessas novas espécies passaram a ser conhecidas a partir do resultado de projetos desenvolvidos com estudantes de mestrado e doutorado.

Mapa das novas espécies.png

Trabalho em rede e cibertaxonomia – Outro ponto que merece detaque é o trabalho realizado em rede. As vantagens de trabalhar de forma conjunta são muitas. Elas incluem do uso de equipamentos tecnológicos mais avançados nas análises de laboratório, à facilidade de contato entre pesquisadores de temas afins – mas que vivem em diferentes lugares do mundo, além do acesso a uma plataforma na internet que facilita o trabalho de descrição das espécies.

Com estrutura semelhante à uma rede social, esse portal facilita a atuação dos pesquisadores ao disponibilizar tudo o que foi descrito até hoje e a bibliografia necessária para a revisão de gêneros conhecidos desde o século XIX ou, até mesmo, a descoberta de novidades. Nas plataformas, os cientistas também podem preencher um formulário com todas as informações úteis para a identificação de uma espécie nova ou de um conjunto de espécies que formem um gênero.

A esse conjunto de ferramentas de bioinformática voltadas para o estudo dos táxons (famílias, gêneros e espécies encontradas em qualquer lugar do mundo) é dado o nome de “cibertaxonomia”.

“O que mais facilita é que eu posso fazer a descrição das espécies online. Como há um padrão de descrição para todos os bichos da família, então, se o pesquisador está descrevendo uma espécie nova lá da China, a descrição dele será comparável com a que estou fazendo aqui da Amazônia, por estarmos usando a mesma base de dados. Além disso, quando a gente revisa ou descreve um gênero novo, por exemplo, precisamos listar todas as características que são comuns a todas as espécies e registrar lá. E o que isso aqui faz por mim? Eu vou colocando as informações das minhas análises e, quando termino, basta clicar num botão que o programa reconhece tudo o que é comum a todas as espécies e faz uma descrição automática de gênero para mim. Essas coisas facilitam muito o trabalho”, explica Bonaldo.

Um microscópio digital – equipamento que possibilita o ajuste de focos para o registro fotográfico de exemplares milimétricos de aranhas – também permite diferenciar com mais precisão os detalhes mínimos dos materiais analisados em laboratório.

Nos casos em que o contraste de cores não é suficiente para fotografias de qualidade, resta ao pesquisador desenhar as espécies como antigamente, mas com a ajuda de uma lupa do próprio microscópio, que funciona como uma câmara clara, projetando a imagem na bancada ao lado para que o contorno e o preenchimento sejam feitos de forma mais simples e próxima da realidade.

Laboratório de microscopia.png

Museu Goeldi – O Museu Emílio Goeldi é o segundo museu de ciência mais antigo do Brasil e pioneiro na Amazônia. Desde a sua fundação, em 1866, desenvolve estudos científicos dos sistemas naturais e socioculturais amazônicos, além de atuar na divulgação de conhecimentos e acervos. Possui quatro bases físicas: o Parque Zoobotânico e o Campus de Pesquisa em Belém (PA); a Estação Científica Ferreira Penna, no arquipélago do Marajó (PA); e um Campus Avançado, em Cuiabá (MT).

Em 2018, foram desenvolvidos 184 projetos no Museu Goeldi, 90% dos quais se referem à pesquisa. Outros 10% são projetos de educação, comunicação e extensão, desenvolvidos por pesquisadores e tecnologistas do quadro funcional, com ou sem participação de instituições parceiras nacionais e internacionais.

O Museu Goeldi mantém em parceria, ou sozinho, sete cursos de pós-graduação – nesta semana aprovou mais um curso de doutorado. Em duas décadas, já formou mais de 650 novos mestres e doutores, sendo uma das instituições mais importantes na formação de especialistas para a Amazônia.

Nesta quarta-feira (03), confira em nosso Portal algumas das novas espécies de animais e, na sexta-feira (05), algumas das espécies descobertas de plantas e fungos. A lista completa já está disponível na mais recente edição do Destaque Amazônia.

 

Texto: Brenda Taketa, João Cunha, Phillippe Sendas e Joice Santos