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Agência de Notícias

Coleção de aves do Museu Goeldi é eleita a mais útil do Brasil

Após investigar 35 coleções ornitológicas nacionais, pesquisa considera a coleção de aves do Museu Goeldi a mais útil do Brasil, levando em conta aspectos como a diversidade de espécies e o número de indivíduos, o impacto científico, a representatividade geográfica e a presença de curadores, ornitólogos e taxidermistas.
publicado: 12/04/2018 12h15, última modificação: 14/06/2018 16h11

Agência Museu Goeldi – O Museu Emílio Goeldi mantém a mais antiga coleção ornitológica científica do Brasil. Iniciada em 1895, a coleção de aves agora recebeu mais um título: segundo a Revista Brasileira de Ornitologia, a Coleção Ornitológica Fernando Novaes é a mais útil do país. O ranking liderado pelo Museu Goeldi foi elaborado pelas pesquisadoras Carla Fontana, Thaiane Silva e Juliana Souza, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

Fontana, Silva e Souza, as autoras do artigo Brazilian bird collections: a decade after Aleixo & Straube (2007), entrevistaram curadores e gestores de 35 coleções ornitológicas distribuídas em todas as regiões do país. Os acervos investigados reúnem 335.152 espécimes (incluindo peles, esqueletos, ovos e ninhos). O estudo atualizou os dados de um primeiro diagnóstico, desenvolvido em 2007, no qual foram analisadas 22 coleções. Ao todo, no Brasil, existem 59 coleções de aves.

Critérios e ranking – Dez critérios foram avaliados para a elaboração do ranking: tamanho total da coleção; relação entre o número de indivíduos e o ano de existência; presença de um curador ou ornitólogo; presença de um taxidermista; diversidade do acervo; presença de espécimes-tipo; digitalização da coleção; média de visitantes por ano; representatividade geográfica e citações da coleção em artigos científicos.

Com a melhor avaliação em todos os critérios, o Museu Goeldi liderou o ranking das coleções ornitológicas mais relevantes do Brasil, seguido do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP), Museu de Ciências e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (MCT), Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN) e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

Resultados – Segundo as pesquisadoras, em dez anos, houve melhora significativa nas coleções ornitológicas brasileiras, das quais 80% se mantém com recursos federais. Apesar da expansão, ainda é nas regiões sul e sudeste que se concentra a maior parte das coleções de aves – cerca de 65%.

O Museu Emílio Goeldi, o Museu Nacional da UFRJ, e o Museu de Zoologia da USP, que possuem as três maiores e mais antigas coleções, detém, juntos, mais da metade de todos os espécimes depositados nas coleções de aves brasileiras e 83% dos espécimes-tipo (exemplar indicado na descrição original da espécie ou taxon).

Outro ponto mereceu destaque no estudo: a digitalização do acervo. Estima-se que 85% das coleções ornitológicas brasileiras estão total ou parcialmente digitalizadas. Iniciativas como as do Sistema Brasileiro de Informações sobre Biodiversidade (SiBBr) e as do Centro de Referência em Informações Ambientais (CRIA) foram fundamentais para a consolidação desse processo. Apesar das melhorias, parte das coleções ornitológicas ainda sofre com deficiências como condições de manutenção, limitações no acesso às informações digitalizadas e falta de especialistas.

A coleção do MPEG – Os dados da pesquisa também destacam um crescimento de 35% na coleção ornitológica do Museu Goeldi. Totalmente digitalizado e com informações disponíveis na internet, o acervo que contava com 58.874 indivíduos no primeiro diagnóstico, agora possui 90 mil. Em relação aos espécimes-tipo (que servem de base para descrição de novas espécies), eram 80 na pesquisa de 2007 e no diagnóstico mais recente são 111, com destaque para táxons endêmicos da Amazônia.

“Nos últimos dez anos, a utilização da coleção ornitológica do Museu Emílio Goeldi pela sociedade aumentou muito, graças a uma política mista de disponibilização dos dados em plataformas públicas e investimentos direcionados na ampliação e qualificação do acervo”, destaca Alexandre Aleixo, curador da coleção ornitológica do Museu Goeldi.

 “O Museu Goeldi nunca perdeu de vista seu papel central como museu de história natural na região de maior biodiversidade do planeta. Historicamente, a instituição abriga vários dos maiores acervos científicos da Amazônia e do Brasil e nunca se desviou do foco na preservação, ampliação e qualificação desses acervos, ao longo de mais de cem anos”, acrescenta Aleixo.

O diretor do Museu Goeldi, Nilson Gabas Jr., complementa a informação do curador: “Apesar do Museu Goeldi não dispor de recursos orçamentários suficientes para garantir, satisfatoriamente, todas as ações que envolvem as coleções científicas, é inestimável o potencial da instituição, não apenas no estudo da biodiversidade, como também da sociodiversidade, principalmente pelas coleções que possui e pela qualificação de seu pessoal”.

Riscos – Os cortes orçamentários que vêm atingindo as universidades e institutos de pesquisa do Brasil também ameaçam a manutenção da coleção ornitológica do Museu Goeldi. Desde 2003, uma política pioneira aplicada ao setor realiza a coleta de material genético de todos os espécimes adicionados ao acervo, resultando num dos maiores bancos de material genético de aves do mundo – 27 mil amostras.

Atualmente, o acervo genético necessita de um sistema de congelamento via nitrogênio líquido. O material já foi comprado, mas ainda não foi instalado por falta de recursos, o que ameaça seriamente a coleção: “Se continuarmos nesse ritmo, com cortes crescentes de recursos de Ciência e Tecnologia no país, corremos o risco de não somente parar de crescer e se qualificar, mas retroceder e perder material de valor científico inestimável porque não temos nem como preservá-lo adequadamente”, alerta o curador que também ressalta a importância de investimentos nacionais para garantir a infraestrutura necessária.

Histórico – O naturalista e zoólogo suíço Emílio Goeldi foi o responsável por iniciar, em 1895, a coleção ornitológica do Museu Goeldi, a mais antiga do Brasil. A contribuição da ornitóloga e naturalista alemã Emilie Snethlage, no começo do século XX, foi fundamental para a consolidação do acervo, que assumiu importância internacional no estudo da avifauna amazônica.

No contexto de reestruturação do Museu Emílio Goeldi, em 1955, houve uma ampliação e modernização da coleção ornitológica, graças ao trabalho realizado pelo então curador  Fernando C. Novaes (1955-1997), tendência seguida pelos curadores David C. Oren (1997-2001), Maria Luiza Videira (2001-2005) e Alexandre Aleixo (2005-atual).

A Coleção Ornitológica Fernando C. Novaes possui o segundo maior acervo do Brasil: 80 mil peles, 12.850 peças de meio líquido e quatro mil esqueletos. Além disso, possui a maior coleção de tecidos de aves silvestres do país, com mais de 27.500 amostras, acompanhando a tendência mundial de integrar acervos tradicionais a acervos voltados ao estudo de sistemática molecular e genética populacional.

O acervo da coleção de aves do Museu Emílio Goeldi tem relevância nacional e internacional, servindo de base para a descrição de novas espécies e diversas pesquisas científicas. Recentemente, uma parceria entre o Museu Goeldi e a Universidade de Toronto, no Canadá, permitiu o reconhecimento da primeira espécie da ave híbrida da Amazônia. O dançador de coroa dourada (Lepidothrix vilasboasi) se tornou a quarta espécie de ave híbrida registrada no mundo. Para saber mais, acesse o link.

 

Texto: Phillippe Sendas.