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Congresso sobre Crustáceos: de um passado remoto ao sustento do homem atual

Temas díspares a priori, as políticas públicas para a pesca artesanal de camarões da Amazônia e os vestígios de caranguejos ancestrais da América mobilizam a comunidade científica no VII Congresso Brasileiro sobre Crustáceos
publicado: 10/12/2012 10h00, última modificação: 05/08/2017 10h11

Agência Museu Goeldi - O Brasil produziu quase 1,3 milhões de toneladas de pescado em 2010, segundo o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). O Pará responde por 143 toneladas desse total, ocupando o segundo lugar no ranking da produção nacional para aquele ano, atrás apenas de Santa Catarina. Bastante apreciado por alguns paladares, o camarão rosa representa a maior parcela do pescado – como é chamado o produto da pesca – paraense. Esses animais pertencem à ordem dos decápodes, cujos representantes incluem, também, a lagosta e o caranguejo e auxiliam no sustento de várias famílias de pescadores do norte do país.  

“São capturas que retomam os tempos dos primórdios da pesca e que foram estabelecidas como cultura do amazônida”, afirma a bióloga Bianca Bentes. Professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), ela vai atuar como moderadora da mesa-redonda “Pesca Industrial e Artesanal de Crustáceos”, integrante da programação do VII Congresso Brasileiro sobre Crustáceos, a ser realizado em novembro em Belém. Segundo Bianca, a pesca desses crustáceos realizada na Amazônia se enquadra na categoria artesanal. Mesmo a do camarão rosa, que tende a ser considerada pesca industrial.
“Uma revisão das características dessa atividade e chegaríamos à conclusão de que ela também é artesanal, mas de larga escala”, acrescenta a bióloga. Pesca industrial, de acordo com Bianca, é aquela onde todo o processo de produção é mecanizado, com mínimo contato manual, conceito que se aplica bem ao estado de Santa Catarina, por exemplo, mas não ao Pará. Daí a comunidade científica optar por se reportar à pesca deste estado como artesanal, de pequena ou larga escalas, classificações realizadas de acordo com o tamanho das embarcações e que não deixam de considerar, também, a autonomia, a mecanização, o destino do pescado e a mão de obra. 
 
O objetivo da mesa-redonda é discutir, num congresso nacional, as perspectivas sobre a atuação da ciência junto aos pescadores artesanais e, também, o manejo das espécies exploradas, principalmente camarões. “Pensar no futuro cenário dessas pescarias é extremamente oportuno, tendo em vista a presença, no congresso, dos pesquisadores atuantes nesta área”, acrescenta a professora. Além de Bianca, participarão da mesa-redonda os pesquisadores Israel Cintra, da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA); Raúl Izquierdo, da Universidade Federal do Ceará (UFC); e Vanildo Oliveira, da Universidade Federal Rural de Pernanbuco (UFRPE).
 
Registros ancestrais – A evolução desses animais também terá vez no VII Congresso Brasileiro sobre Crustáceos com a mesa-redonda “Evolução dos crustáceos da América Tropical”, que será moderada pela bióloga Maria Inês Feijó Ramos, do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG). O estudo dessa temática é viabilizado pelos registros fósseis provenientes das carapaças desses animais, ou seja, das duras partes calcificadas que protegem o corpo deles, a exemplo do caranguejo. “As carapaças se preservam ao longo do tempo geológico, após a morte do indivíduo”, explica a pesquisadora.
 
Inês afirma que é comum o registro fossilífero de caranguejos na Amazônia, principalmente nos estados do Pará, Acre e Amazonas. Os crustáceos são, provavelmente, egressos do Mar de Tethys, que separava as duas massas continentais da Terra – a Laurásia, ao norte, e a Gondwana, ao sul – há cerca de 250 milhões de anos. “Os organismos que nele viviam foram se especiando e originando novas espécies”, acrescenta a pesquisadora.  Tais espécies passaram a habitar os mares que se formaram da separação daqueles dois continentes, a exemplo do Atlântico e do Mar do Caribe. Assim, Tethys representa o berço de muitos organismos marinhos da chamada América Tropical.
 
Participam, também, da mesa-redonda os estudiosos Vladimir Távora, da UFPA; Orangel Aguilera, do MPEG; e Cristianini Trescastro Bergue, da Unisinos. Além de moderadora, a pesquisadora Maria Inês Ramos também participará dos debates. O VII Congresso Brasileiro sobre Crustáceos é uma realização da Sociedade Brasileira de Carcinologia em parceria com o Museu Goeldi e a UFPA.
 
Serviço: VII Congresso Brasileiro sobre Crustáceos, de 11 a 14 de novembro de 2012 no Hangar – Centro de Convenções da Amazônia. As mesas-redondas serão realizadas a partir do dia 12, sempre das 10h30 às 12h. Para acessar o site do evento, clique aqui
 
Texto: Antonio Fausto