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Cooperação Internacional para enfrentar desafios conjuntos

Em Seminário realizado no Museu Goeldi no último dia 15, pesquisadores da França e do Brasil discutiram seu histórico de parcerias e os desafios atuais para a cooperação científica entre a Europa e a Amazônia
publicado: 22/06/2016 15h45, última modificação: 26/02/2018 15h35

Agência Museu Goeldi – É necessário que a própria Amazônia produza conhecimentos sobre sua natureza e seus povos para que alcance desenvolvimento pleno. É necessário que a Europa se abra para a cooperação e a cultura de outros povos, frente aos desafios globais, como mudanças climáticas e a construção da democracia.

dia 22 - cooperacao internacional 3Esses foram alguns dos horizontes discutidos no Seminário “Biodiversidade, mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável: questões de pesquisa e valorização”, que aconteceu no último 15, no Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), como parte da Semana de Cooperação Científica Franco-Paraense. O Seminário foi um espaço para revisar as parcerias científicas do MPEG com instituições da França e planejar colaborações futuras.

Cooperação – Na mesa de abertura, o diretor do Museu Goeldi, Nilson Gabas Jr., destacou a importância de parcerias com a França e a Europa, além do governo do estado do Pará, em um momento de crise para a ciência local e nacional.

“Temos conseguido sensibilizar a comunidade europeia, em parcerias fortes como a que temos com a França e a Noruega, sobre a importância de estabelecer o Pará como um polo científico. Essa cooperação internacional e o suporte do governo do estado são muito importantes em um momento de preocupação com o corte de verbas e a fusão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação com o Ministério das Comunicações”, ponderou Gabas.

Já o secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Técnica e Tecnológica do Pará, Alex Fiúza, destacou que o Museu Goeldi ultrapassará a atual crise econômica, pois é um patrimônio da sociedade e a sociedade “sobrevive a governos e a crises”. Destacou ainda o papel de liderança que se espera da Europa frente aos desafios de um mundo globalizado. “A Europa tem um papel central nesse processo de construir uma mentalidade mais dilatada sobre a humanidade, ao se abrir para outras culturas e ser reconhecida pelos povos”.

Alex Fiúza falou ainda sobre as vantagens mútuas que devem envolver qualquer projeto de cooperação. “Devemos gerar conhecimento na e para a região. A Amazônia não pode continuar a ser tratada como almoxarifado do sudeste do Brasil ou de multinacionais, nem como lugar exótico para turistas pós-modernos”, ressaltou. “Aqui temos 25 milhões de brasileiros que precisam de oportunidades, que podem ser criadas com suporte da cooperação científica”.

França – Além de pesquisadores da França e do Brasil, esteve presente também no Seminário Phillippe Martineau, representante da embaixada da França no Brasil e um dos responsáveis pela concepção do evento. Martineau expressou a vontade de novas parcerias que contemplem o Brasil de maneira mais plural e não apenas polos como Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.

O Seminário contou ainda com as falas de Frédéric Huynh, representante do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD) da França, e Jean-Luc Battini, diretor regional do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (CIRAD) francês.

Frédéric Huynh (IRD) expressou sua satisfação pela realização do Seminário no ano em que o Museu Goeldi completa 150 anos de história e por ter no evento ex-diretores da instituição, como Adelia Engrácia de Oliveira, Peter Mann Toledo e Ima Vieira, cujo trabalho permitiu vários projetos de cooperação com a França. Já Jean-Luc Battini (CIRAD) disse que encontro marca a vontade de intensificar as colaborações, expandindo o trabalho de instituições brasileiras com o CIRAD, que já é intenso com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), e pode se ampliar para investigar áreas fundamentais como o impacto da produção agrícola sobre o ambiente.

dia 22 - cooperacao internacional 1Histórico – O Seminário contou com três mesas redondas, onde gestores e pesquisadores apresentaram pesquisas já desenvolvidas e perspectivas para sua continuidade e ampliação. As mesas se intitularam “Balanço da cooperação francesa com o MPEG”, “Ecologia, Meio Ambiente e Biodiversidade” e “Ciências humanas e sociais: linguística, antropologia e geografia”.

Durante a primeira mesa, a ex-diretora do Museu Goeldi, Adélia Engrácia de Oliveira, relatou as contribuições de cooperações com a França para a formação de recursos humanos e consolidação de linhas de pesquisa no Museu Goeldi, entre as décadas de 1970 e 1990, em temas como identidades, ocupação do território e demografia.

O antropólogo Roberto Araújo (MPEG), moderador da primeira mesa, destacou também que as pesquisas conjuntas, não apenas nas áreas de humanidades, mas também de ecologia e ecossistemas costeiros, possibilitaram avanços metodológicos e conceituais, e também experiências participativas, envolvendo as populações locais e especialistas de diferentes áreas nas pesquisas.

Natureza - A segunda mesa, “Ecologia, Meio Ambiente e Biodiversidade”, tratou das pesquisas conjuntas entre Brasil e França, com mediação de Ima Vieira (MPEG). A pesquisadora Maria Thereza Prost (MPEG) relatou sua experiência na coordenação da Rede ECOLAB, cooperação informal franco-brasileira sobre o litoral amazônico (Guiana francesa, Suriname, Amapá, Pará, Maranhão), no início dos anos 90, as dificuldades de conduzir o trabalho e como ele deu origem ao atual Programa de Estudos Costeiros, uma das principais iniciativas em pesquisa do Museu Goeldi.

A pesquisadora Ana Luiza Albernaz apresentou ainda dados sobre unidades de conservação da Amazônia brasileira, que atualmente sofrem com desmatamento e pressões fundiárias, especialmente em seus limites. Os pesquisadores discutiram ainda a correlação desses dados ambientais com as perspectivas de mudanças climáticas para a Amazônia e outras regiões da América do Sul e do mundo.

Humanidades – Retomando as informações apresentadas por Ana Albernaz, o antropólogo Roberto Araújo destacou, na terceira e última mesa, que o IRD - e, portanto, a cooperação científica internacional -, tiveram papel no estímulo a criação de unidades de conservação na região: “atualmente, a Amazônia é um mosaico de arranjos institucionais. Áreas de conservação já consolidadas ainda estão sob pressão e possuem desafios ambientais e de desenvolvimento”. Portanto, há novos desafios de pesquisa e governança, aponta Roberto.

Já Francisco Queixalos (IRD/CNRS) e Claudia Lopez (MPEG) destacaram seus trabalhos nas áreas de linguística e antropologia com grupos indígenas na região como fontes de conhecimento fundamental sobre o meio ambiente e os processos humanos amazônicos.

dia 22 - cooperacao internacional 2“Não é só o entendimento da nossa sociedade sobre o que é fazer ciência. É também se aproximar ao entendimento que os povos indígenas têm do que é produzir conhecimento e como eles produzem saberes que são indispensáveis para a continuação de seus processos socioculturais”, destacou a Dra. Claudia, que desenvolveu pesquisas antropológicas sobre saúde e práticas alimentares em comunidades indígenas, tratando de temas como inovações e etnobotânica.

Francisco Queixalos destacou também o papel que as mais de 100 línguas indígenas amazônicas representam como patrimônio de conhecimento sobre a biodiversidade e a história humana na região. “É necessário que os povos utilizem a escrita em sua língua materna, para que possam entender como se inserem em nosso sistema político e tenhamos ferramentas para que indígenas tenham formação em diversas áreas e possam interagir com a sociedade mais ampla”, completa Queixalos.

Futuro – De modo geral, os pesquisadores destacaram a relevância das mudanças climáticas e da geração de conhecimento na e para a Amazônia como fatores fundamentais a se considerar para o desenvolvimento sustentável na região. Perceberam ainda a necessidade de ações de pesquisa pluridisciplinares que integrem a biodiversidade, como grande eixo, a políticas públicas embasadas cientificamente. Novas ações nesse sentido já estão sendo planejadas.

Há algumas semanas, o Museu Goeldi assinou Protocolos de Intenções de Cooperação técnico-científica com o IRD e o CIRAD. O protocolo de intenções com o IRD inclui possibilidades de intercâmbio de pesquisadores, atividades de pesquisa conjuntas, organização de exposições e parceria para captação de recursos. Já o protocolo de intenções com o CIRAD prevê projetos conjuntos em temas como biodiversidade, agricultura familiar e desenvolvimento territorial sustentável, além da participação do CIRAD no recém-aprovado Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia “Biodiversidade e uso da Terra na Amazônia – CONSOBIO”, com sede no MPEG.

 

Texto: Uriel Pinho