Você está aqui: Página Inicial > Notícias > Histórias da Amazônia gravadas na cerâmica
conteúdo

Agência de Notícias

Histórias da Amazônia gravadas na cerâmica

Oficina traz pesquisadores de toda a Amazônia para o Museu Goeldi em busca de uma síntese dos estudos sobre as cerâmicas da região
publicado: 06/11/2014 12h30, última modificação: 27/11/2017 16h17

Agência Museu Goeldi - Dos primeiros estudos sobre a região, no século XIX, passando pelo pioneirismo de Betty Meggers e Clifford Evans na investigação in loco do Marajó, a Arqueologia construiu um caminho evolutivo para o entendimento da história dos povos que viveram na Amazônia há milhares de anos. Vivendo hoje um cenário de avanços nas tecnologias e métodos e de aumento de instituições científicas dedicadas ao assunto, arqueólogos do mundo inteiro estão reunidos em Belém do Pará para compartilhar dados de suas pesquisas sobre a cerâmica amazônica e em busca de uma síntese que fortaleça o campo científico.

O primeiro passo no sentido dessa integração está se concretizando na oficina internacional “Cerâmicas Arqueológicas da Amazônia – Rumo a uma nova síntese”, realizada no Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). O evento, que acontece até o dia 7 de novembro, congrega mais de 25 pesquisadores que estudam a arqueologia da região, incluindo além do Brasil os demais países que formam a Pan Amazônia, como Bolívia, Peru, Guiana Francesa e Suriname.

De acordo com uma das organizadoras da oficina, Dra. Helena Lima, arqueóloga do Museu Goeldi, o encontro é uma iniciativa conjunta de especialistas que sentiram a necessidade de um fluxo de informações mais intenso sobre as pesquisas em cerâmicas amazônicas. “Temos o desafio de encontrar termos em comum e abordagens coerentes com a variedade de artefatos que remontam a essa história pré-colonial, indígena de longuíssima duração que a Amazônia tem revelado”, disse.

Para a bolsista Luiza Araújo, o interesse em participar da organização do evento veio do seu caráter inovador. “É a primeira vez que se traz a cerâmica arqueológica da Amazônia para uma perspectiva em que todo as culturas tem relação. É preciso abrir os espaços e as visões dos trabalhos para dialogar de onde vêm essas comunicações que estão se evidenciando”, declarou.

Programação - As atividades da oficina iniciaram na tarde dessa segunda-feira (3) no Parque Zoobotânico do Goeldi com a visita dos pesquisadores à exposição “Visões: A Arte Rupestre de Monte Alegre”. A mostra é resultado dos estudos de Edithe Pereira, arqueóloga do Museu Goeldi, que investiga as gravuras e pinturas encontradas no município de Monte Alegre, no oeste paraense. Em seguida, houve a conferência inaugural do arqueólogo francês Stéphen Rostain sobre as tecnologias cerâmicas na Amazônia Oriental e Ocidental.

O evento acontece no Campus de Pesquisa do Museu Goeldi, no bairro da Terra Firme. A programação da manhã revela ao público, com palestras, apresentações e debates, dados sobre a ancestralidade e os costumes dos primeiros habitantes da Amazônia, como os sítios cerimoniais e astronômicos da cultura Maracá, no Amapá, e a prática da cultura Barbakoeba, na fronteira do Suriname com a Guiana Francesa, de preservar em urnas os restos mortais dos familiares.

Conexão amazônica - As histórias dessas comunidades e tradições são recontadas através dos traços materiais que sobreviveram ao tempo e à ação humana. Cada tipo de incisão e materiais e estilos cerâmicos distintos utilizados em jarros, vasos, urnas e pratos encontrados nos sítios arqueológicos remontam a um modo de vida e ao ambiente daquelas pessoas. As evidências perceptíveis aos especialistas capazes de decodificar esses símbolos estão mostrando uma narrativa muito mais complexa e integrada do que antes se imaginava.

Para Helena Lima, os estudos arqueológicos na região estão se deslocando de um patamar que considerava a vivência desses povos de formas isolada para sistemas de relações de trabalho, de comunicação e de influências desenvolvidas ao longo do território amazônico. “Quanto mais as pesquisas tem se desenvolvido, mais se tem desvelado uma antiguidade muito maior dessas cerâmicas e também desenvolvimentos locais e redes de interação extremamente complexas inter e intra regionais”, afirmou a arqueóloga do MPEG.

Oportunidade única – O evento internacional também é um momento dos pesquisadores discutirem a Arqueologia da região usando os exemplos reais desses achados históricos. As tardes da oficina, restritas aos convidados, são dedicadas a visitas e trabalhos nos laboratórios e na coleção arqueológica do Museu Goeldi. O acervo do Goeldi é imprescindível para contar a pré-história da humanidade na região, com mais de 120 mil peças catalogadas e divididas em coleções-tipo.

“Isso é uma oportunidade única. Realmente só aqui, no Museu Goeldi, que pode ser feita por causa dessa maneira de organização das coleções. Vir com os demais pesquisadores para cá e debatermos juntos essas coleções é incrível”, disse uma das organizadoras do evento, Dra. Cristiana Barreto, pesquisadora do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo.

 

Texto: João Cunha

Galeria de Imagens: