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Agência de Notícias

Ilha de Saracá: entre o casco e o paneiro na região de Tocantins

Homens e mulheres são agentes produtivos na coleta de recursos naturais em atividades de subsistência como a pesca e o extrativismo do açaí
publicado: 18/07/2013 14h00, última modificação: 14/08/2017 11h17

Agência Museu Goeldi - Associar pesca e açaí (Euterpe oleracea Mart.) no dia-a-dia de uma comunidade da Ilha Saracá levou Genisson Chaves até o município de Limoeiro do Ajuru, distante aproximadamente 200 km da capital paraense. Segundo o bolsista, existem referências que conectam tanto a atividade pesqueira como o extrativismo do açaí. Elementos de tecnologia tradicional como casco e paneiro permitem tal conexão já que são utilizados em ambas atividades, ao que se deve somar a indiferença de gêneros enquanto participantes das cadeias produtivas.

Com pesquisa sobre “As Interfaces da pesca e do açaí no cotidiano da comunidade da Ilha Saracá/PA”, Genisson, bolsista de iniciação científica da área de Ciências Humanas do Museu Paraense Emilio Goeldi, estudou a pesca e o extrativismo do açaí, principais atividades e fonte de renda dos moradores do local. 

Seguindo o curso das estações do ano, a região também passa pelos períodos de inverno e verão amazônicos. No primeiro, há maior intensidade de chuvas; já, no segundo, há menos influência das águas. Entre julho e dezembro, ocorre o verão amazônico e na Ilha Saracá o momento é propício para uma maior produtividade do açaí. Durante os meses de novembro a fevereiro a atividade pesqueira é proibida por ser o período de reprodução dos peixes. E como na época do inverno há uma queda natural da produção do açaí, a atividade que mais se destaca no período é a pesca. Dessa forma observa-se a chamada economia mista da qual vive a comunidade.

“O casco é utilizado para que os moradores possam se deslocar tanto aos locais de pescaria quanto aos locais de extração de açaí. O paneiro armazena o peixe e o camarão, mas também o açaí, além de outras frutas, entre elas cacau, manga e jambo após a coleta”, ressalta Genisson.

Na Ilha Saracá, homens e mulheres participam das atividades que geram renda e movimentam a economia do local. De forma geral, independente de gênero e faixa etária, todos na localidade buscam contribuir ativamente na efetivação das tarefas.

São os homens adultos os maiores responsáveis pela coleta do açaí, mas recebem o auxílio de suas esposas e filhos, que atuam na “disbulha”, momento quando os caroços são retirados dos cachos. Há momentos em que as mulheres adultas e os próprios meninos e meninas coletam o fruto para o consumo familiar e comercialização. Também há casos em que as mulheres são as únicas responsáveis pela coleta do fruto, seja para consumo ou comercialização. Alguns idosos ainda coletam açaí, principalmente para o próprio consumo.

Com relação à pesca, os dois gêneros também participam das atividades, como na pesca de malhadeira e na despesca de matapi. Esta última é uma armadilha utilizada para a captura do camarão. A presença masculina é mais evidente no tipo de pesca chamado “borqueio”, quando grandes redes são expostas para bloquear a passagem dos peixes. As crianças buscam o pescado nos cascos ou mesmo na despesca das redes e do matapi e colaboram também no preparo da comida. Aqui os idosos participam consertando as redes de pesca danificadas pelo contínuo uso e no preparo da comida.

Sobre a coleta do açaí

Técnica e trabalho na extração e tratamento do açaí

Genisson Chaves detalhou em sua pesquisa as etapas em que consiste tal atividade. O apanhador é o responsável em subir na palmeira para retirar os cachos repletos do fruto. Para tanto, se faz necessário o auxílio da “peconha” instrumento confeccionado por sacos que anteriormente serviram para depositar açúcar, trigo, batata, entre outros. A “peconha" também pode ser confeccionada por folhas do próprio açaizeiro, nas vezes em que o apanhador não dispõe do outro tipo. Entre homens, mulheres e crianças, todos utilizam o instrumento para a coleta do fruto.

No alto da árvore, o apanhador com um facão ou terçado em uma das mãos, ou apenas contato com as mãos, corta/retira o cacho e desce para entregar a outra pessoa, que, ao receber, irá ‘disbulhar’, enquanto o apanhador repetirá a ação tantas vezes quanto houver fruto no pé.

 

Texto: Júlio Matos