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Línguas indígenas amazônicas em destaque

Há quase trinta anos, o Museu Goeldi trabalha na documentação, descrição e reconstrução de línguas indígenas na região
publicado: 15/07/2014 15h30, última modificação: 05/09/2017 13h50

Agência Museu Goeldi – Quais as línguas faladas no Brasil? Além do português, provavelmente sua primeira resposta, há mais de 150 línguas faladas por grupos indígenas. Mais de cem estão concentradas na região amazônica, onde pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) atuam na documentação e compreensão dos sistemas linguísticos das populações indígenas. Estes estudos são assunto da edição de número 69 do Destaque Amazônia.

O Destaque apresenta seis, das trinta e duas línguas, que são objeto de estudo de especialistas vinculados ao Goeldi: Oro Win, Gavião, Suruí, Paresí, Arikapú e Djeoromitxí. Além disso, traz reportagens que explicam metodologias, novas abordagens e descobertas recentes da área da Linguística, vinculada à Coordenação de Ciências Humanas (CCH/MPEG).

Assista aqui ao trailler da edição especial do Destaque Amazônia.

Valorização cultural – Um resultado concreto desta parceria é o vasto acervo digital no Museu Goeldi, com cerca de 80 línguas indígenas. Duas delas são o Oro Win e o Paresí que correm risco de extinção. O trabalho de documentação de ambas é apresentado nesta edição do Destaque.

O Oro Win é uma língua que se distingue de outras da Amazônia, com palavras curtas e sons bastante diferentes. Há apenas seis falantes na aldeia em Rondônia, todos acima dos 50 anos. Seu risco de extinção foi agravado ainda na década de 1960 quando o idioma foi proibido de ser falado pelos indígenas que trabalhavam nos seringais. Se não obedecessem, eram agredidos fisicamente.

Além da descrição e documentação, a pesquisa apoiou a tentativa de aprendizado da língua nas escolas, com a elaboração de materiais didáticos junto ao professor local.

No caso dos Paresí, a iniciativa partiu da própria comunidade, preocupada com a perda da cultura tradicional. São pouco menos de 2.000 indígenas desta etnia que vivem em 44 aldeias próximas ao município de Tangará da Serra (MT). Apesar de 90% da população falar Paresí, algumas aldeias sofrem influências da sociedade moderna. O registro foi iniciado em 2006 na aldeia de Formoso, uma das mais tradicionais, e a partir de 2011, os próprios indígenas deram continuidade ao trabalho, após passarem por treinamentos para utilização de equipamentos e técnicas de filmagem.

Origens – Um dos fenômenos que instigam os linguistas na Amazônia é a concentração de grupos étnicos e línguas nas fronteiras do bioma, área de maior interação entre eles. Um estudo recente levanta a hipótese de que essa seria uma zona de convergência, onde se iniciou a ocupação na região.

O estado de Rondônia também é importante para entender as origens das línguas indígenas. Segundo os especialistas, é provável que ali tenha se originado o Tupi, pois é onde se encontra a maior diversidade de línguas deste tronco. Na fronteira com a Bolívia, no Vale do Guaporé, existe uma situação rara de grande diversidade linguística, com aproximadamente 50 línguas diferentes pertencentes a sete troncos linguísticos. Há ainda a existência de dez línguas isoladas, isto é, que não apresentam conexões entre nenhuma outra língua. Isso demonstra a presença de uma ocupação tão antiga cujas origens são difíceis de serem percebidas.

A Linguística Histórica é o ramo que investiga essas origens. Foi a partir dela que pesquisadores do Goeldi descobriram que as línguas Arikapú e Djeoromitxí pertencem ao tronco Macro-Jê. Antes, elas eram consideradas pertencentes a uma pequena família isolada, o Jabutí.

O estudo reconstruiu palavras da língua ancestral comum, chamada de Proto-Jabutí, falada por volta de 2.000 anos atrás antes de ser dividida em duas. Essa pesquisa reuniu dados coletados por Emil-Heinrich Snethlage (1897-1939) em Rondônia nos anos 1930 e confirmou uma antiga hipótese do etnólogo Curt Nimuendajú (1883-1945). Mais detalhes do estudo são apresentados na exposição Diálogos: os Snethlage e as Ciências Humanas no Museu Goeldi, em cartaz no Parque Zoobotânico.

Reconstrução histórica – Se hoje o português é a língua mais falada da região, no período colonial indígenas, portugueses, negros e mestiços se comunicavam através da Língua Geral ou Nheengatu. Difundida pelos missionários, ela é de origem Tupi e baseada na língua dos Tupinambá, o primeiro povo que teve contato com os colonizadores. A Língua Geral foi usada até meados do século XIX, quando o português já era obrigatório.

Recentemente, foi encontrado um dicionário Língua Geral-Português/Português-Língua Geral de 1756, na Alemanha, redigido por um missionário alemão ainda não identificado. O manuscrito até então inédito mostra a evolução da aprendizagem na Língua Geral e foi transcrito pelo Museu Goeldi para estudos posteriores. O documento será lançado pelo MPEG em formato digital no ano de 2015.

Destaque Amazônia – É uma publicação bimestral do Serviço de Comunicação do Museu Goeldi que apresenta as pesquisas realizadas pela instituição. As edições em formato digital estão disponíveis para acesso e download no Portal do MPEG.

 

Texto: Luena Barros