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Agência de Notícias

Museu Goeldi é refúgio para dezenas de preguiças

No Parque Zoobotânico da instituição, visitantes têm a oportunidade de avistar facilmente estes mamíferos peculiares e carismáticos, que tem um dia especial no qual se comemora a sua existência - o dia 19 de outubro
publicado: 18/10/2013 15h15, última modificação: 18/08/2017 11h54

Agência Museu Goeldi – Andando pelo Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi, é possível deparar-se com uma figura simpática, que se movimenta lentamente pelas copas das árvores. Naquele refúgio localizado no centro da capital do Pará, cerca de cinquenta bichos-preguiças vivem soltas e podem ser observadas sozinhas ou carregando seus filhotes, especialmente nos cacaueiros próximos ao viveiro dos macacos e à portaria da Travessa Nove de Janeiro. Outras dez ficam em um ambiente controlado pelos veterinários do MPEG, pois não conseguem sobreviver sozinhas.

A maior parte destes animais chega à instituição através de doações e apreensões do IBAMA. Só no ano passado, o Museu Goeldi recebeu 35 preguiças. Infelizmente, a maioria apresenta mutilações ou doenças, em decorrência das condições precárias às quais são submetidas quando capturadas, e não sobrevivem, apesar da assistência intensiva e cuidadosa do Serviço do Parque Zoobotânico. Para sensibilizar a sociedade da necessidade de preservar este animal, a organização não governamental AIUNAU criou o Dia Internacional do Bicho-Preguiça, comemorado no dia 19 de outubro.

A bióloga do SPZ, Andreza Ferreira, explica que estes animais requerem atenção especial porque são extremamente peculiares. Pensando nisso, os veterinários do MPEG adaptaram uma sala para abrigar as preguiças que precisam de acompanhamento. Ali elas têm ambiente que simula a copa de uma árvore, com a temperatura estável em 37º C. Andreza Ferreira diz que a intenção é que, futuramente, o “preguiçário” seja transferido para um recinto a ser construído próximo ao viveiro das antas e que fique em exposição.

Clique aqui e veja o vídeo Hoje é dia de Preguiça.

Bicho-preguiça - As preguiças são animais restritos às Américas, distribuídas desde a América Central até a América do Sul. Elas se dividem em dois grupos: as que têm dois dedos e as que têm três. No Pará, as primeiras são conhecidas como preguiças-carneiro ou preguiças-reais e as segundas como preguiças-comuns ou preguiças-bentinho.

As preguiças-reais possuem rosto alongado e dentes semelhantes aos caninos. As comuns têm o rosto achatado e coloração escura, além de serem menores e mais lentas que as reais.

Em geral, dormem por volta de 14 horas por dia, movimentam-se vagarosamente e só descem das árvores uma vez por semana para urinar e defecar no solo. O pesquisador Abilio Ohana, do Programa de Pós-Graduação em Zoologia do MPEG, explica o comportamento lento: a dieta baseada em folhas fornece pouca energia, que precisa ser poupada para manter o metabolismo constante, ainda que baixo. “A baixa taxa metabólica apresentada pelas preguiças (uma das mais baixas entre os mamíferos) dificulta a manutenção da temperatura corporal desses animais que, por isso, precisam ficar em ambientes quentes e úmidos para mantê-la”, explica Abílio.

“É um animal que muitas pessoas taxam como lento, como preguiçoso, mas que na verdade se supera a cada dia na dificuldade de locomoção e se distribui por toda floresta”, afirma o biólogo. Segundo Ohana, há grandes regiões da Amazônia onde ainda não foram registradas ocorrências destes animais, mas é provável que esses mamíferos lá estejam.

Abilio Ohana ressalta que ainda há muito a se descobrir sobre as preguiças. Não se sabe ao certo quantas espécies existem na natureza, dados sobre ecologia, comportamento, dieta, reprodução e estudos de conservação destes animais.

Cuidados - Ao se retirar um animal da natureza, um ciclo biológico inteiro é afetado ou mesmo extinto. Quando um bicho-preguiça é retirado do ambiente natural, o ciclo biológico de vetores de doenças, por exemplo, é alterado. Na ausência das preguiças, os parasitas buscam outro hospedeiro, que nesse caso pode ser o homem.

Por isso, ao avistar uma preguiça ou qualquer outro animal em seu habitat natural, procure não interferir. Não o toque, mate ou retire da natureza. As preguiças são extremamente peculiares, não sobrevivem fora da floresta e não podem ser domesticadas. Abilio Ohana também chama atenção no caso de encontrá-las em feiras: “Nunca compre animais silvestres. Com as preguiças não é diferente. Não as compre para protegê-las, ou para doá-las, por exemplo”. Em casos de risco ao animal, o biólogo explica que o correto a se fazer é denunciar aos órgãos competentes, como o IBAMA, Corpo de Bombeiros, Polícia Ambiental e Centro de Zoonoses.

Texto: Luena Barros