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Museu Goeldi lança primeira edição de 2017 do Boletim de Ciências Humanas

De tempos ancestrais à contemporaneidade, Arqueologia dá o tom do novo número. Mas há também trabalhos sobre linguística, medicina, agricultura, folclore e literatura em tempos e espaços diversos.
publicado: 09/03/2017 11h00, última modificação: 15/02/2018 15h47

O primeiro Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas de 2017 já está disponível. Tem Arqueologia, Antropologia, História e Linguística em 13 artigos que abordam desde a forma como nossos ancestrais se deparavam com a morte até as maneiras como o câncer foi visto pela medicina brasileira no século XX. A ideia de tempo e espaço como criações simbólicas norteia o novo número do Boletim.

 “O tempo é a dimensão intrínseca da vivência humana e da nossa experiência de mundo” é o trecho que introduz o artigo de Sarah Hissa, intitulado “Arqueologia de marinheiros-caçadores do século XIX: ensaio sobre o tempo e a Antártica”. Nele, a autora analisa a mudança na percepção sobre a Antártica como local inerte no tempo e no espaço a partir da presença de trabalhadores e suas várias formas de viver os tempos do trabalho e do lazer, numa estadia meio ausente marcada pela dualidade metrópole versus Antártica.

Arqueologia nos diversos ramos - Do continente gelado para a porção sul do Brasil, vem “Tempo e Espaço Guarani: um estudo acerca da ocupação, cronologia e dinâmica de movimentação pré-colonial na Bacia do Rio Taquari/Antas, Rio Grande do Sul, Brasil”, de Fernanda Schneider, Sidnei Wolf, Marcos Kreutz e Neli Machado. Eles discutem a ocupação da região pelos Guarani, entre os séculos XIV e XVIII, como estratégia de manutenção e expansão do território pelo controle consciente do ambiente. 

A cultura indígena ancestral também é assunto de “Cauixi em cerâmica arqueológica da região de Lagoa Santa, Minas Gerais: inclusão de esponjas processadas ou exploração de depósitos sedimentares com espículas”. Igor Rodrigues, Cecília Volkmer-Ribeiro e Vanessa Machado relatam a primeira identificação do cauixi em cerâmica arqueológica. Termo tupi-guarani que significa “mãe da coceira”, o cauixi – oriundo das esponjas – foi encontrado na cerâmica da tradição Aratu-Sapucaí.

O meio também é a mensagem é o que sugere o artigo “Símbolos na Arte Rupestre sob o olhar da Arqueologia Cognitiva: considerações analíticas sobre o sítio Conjunto da Falha, Cidade de Pedra, Rondonópolis, Mato Grosso”. Carolina Guedes e Denis Vialou estudam a relação entre o suporte e as inscrições de arte rupestre encontradas na região.

O ambiente como agente que conduz os seres humanos a diversas adaptações é o que propõe o conceito de geopaisagem, relacionado à arqueologia em “Sítios com pinturas rupestres em Buíque, Venturosa e Pedra, Pernambuco, Brasil, no contexto da geopaisagem”. De Marília Amaral, Carlos Souza e Ricardo Pessoa, o estudo parte das mudanças em sítios arqueológicos para “compreender a dinâmica da adaptação do homem ao meio ambiente”.

O mapeamento de sítios arqueológicos dos grupos Jê, que viveram no sul do Brasil, para demonstrar áreas de alta densidade populacional na região, com vestígios de ocupação permanente, em contraposição à ideia dos Jê como grupos “demograficamente reduzidos, isolados e nômades”. Essa é a proposta é de Francisco Noeli e Jonas Souza em “Novas perspectivas para a cartografia arqueológica Jê no Brasil Meridional”.

Morte, doença e violência – Estudar a vida ancestral implica estudar os rituais relativos à morte. Ana Solari e Sérgio Silva analisam práticas funerárias para compreensão dos aspectos simbólicos, culturais e ideológicos relacionados à morte no passado. Dentre as práticas identificadas em “Sepultamentos secundários com manipulações intencionais no Brasil: um estudo de caso no sítio arqueológico Pedra do Cachorro, Buíque, Pernambuco, Brasil”, estão o descarnamento do cadáver e a redução do esqueleto.

Em época recente, Maria Cristina Dadalto pesquisou jornais e inquérito policial para analisar conflito entre imigrantes italianos e trabalhadores brasileiros, no Espírito Santo, no século XIX. O caso resultou em assassinatos e terminou sem a definição de culpados. Em “Cenas de violência na tessitura entre imigrantes italianos e brasileiros no interior do Espírito Santo” se destaca a intolerância, tão contemporânea.

Estamos agora no século XX e o alvo da análise é como o câncer foi abordado no discurso médico: primeiro como sintoma de civilização e de progresso e, depois, como problema de saúde que traz à tona a fragilidade do sistema público. Intitulado “De doença da civilização a problema de saúde pública: câncer, sociedade e medicina brasileira no século XX”, o texto de Luiz Neto e Luiz Teixeira mostra que a noção de doença, assim como a de morte, também está marcada por aspectos culturais e ideológicos.

Linguística, cultura e imprensa – Assim como o ser humano, também a língua está em constante processo de adaptação. É o que mostra Fernando Carvalho em Philological evidence for phonemic affricates and diachronic debuccalization in Early Terena (Arawak), artigo no qual aponta diferenças na língua Terena falada em meados do século XIX e no início do século XX.

Rumo à Amazônia, o texto “Do Folclorismo à História da Cultura na Amazônia: o percurso construído por Vicente Salles”, de Magda Ricci e Alessandra Mafra, analisa o percurso intelectual de Salles e a evolução dos estudos sobre a cultura, particularmente a cultura popular, na região.

 Agente ativo na conformação da cultura, a imprensa volta à tona no artigo que encerra o novo número, “A inserção da obra ‘Euclides da Cunha e o paraíso perdido’, de Leandro Tocantins, na imprensa carioca nos anos de 1960”. Alexandre Pacheco, autor do texto, destaca que a recepção desse livro “no meio jornalístico do Rio de Janeiro sofreu influências decisivas da cordialidade que jornalistas e críticos dispensaram ao autor e ao político Leandro Tocantins nos anos de 1960”.

 A edição também está no Issuu e, em breve, estará no SciELO. Curta o Boletim no Facebook.

Texto: Antonio Fausto, Núcleo Editorial – Boletim