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Agência de Notícias

Novas espécies descobertas entre 2010 e 2013

Museu Goeldi descreve para a ciência quase duas centenas de animais e plantas
publicado: 19/02/2014 09h45, última modificação: 15/06/2018 10h36

Agência Museu Goeldi – Nos últimos quatro anos, pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi descobriram 169 novas espécies, sendo 14 de plantas e 155 de animais. Número expressivo, que sinaliza o aumento considerável no esforço de coleta e análise de dados de campo. Para efeito de comparação basta lembrar que no Catálogo Espécies do Milênio , apresentado em 2012, o Museu relacionou 130 novas espécies (49 da flora e 81 da fauna), fruto de 11 anos de pesquisa da instituição (2000-2011).

Grande parte dos números recentes derivam do grupo dos Aracnídeos, com a descoberta de 112 espécies e 7 gêneros, seguido do de Peixes (12), Aves (10), Anfíbios (10), Répteis (6), Dípteros (4) e Mamíferos (1). Na flora, entram na contagem 13 espécies de Angiospermas e uma de Briófita.

  

 

Alexandre Bragio Bonaldo, zoólogo do MPEG, explica que o crescimento de informações sobre o grupo que estuda, os aracnídeos, se deu com a participação desde 2007 no Planetary Biodiversity Inventory (PBI). Trata-se de um projeto colaborativo para o estudo de aranhas da família Oonopidae, que envolve 20 instituições ao redor do mundo e permite que especialistas descrevam espécies em uma plataforma online. Parte do princípio de que o inventário da biodiversidade pode ser feito em escala mundial através da escolha de grupos-alvo de organismos, em oposição à visão corrente de que os inventários biológicos devam ser baseados em uma determinada área geográfica, ecossistema ou bioma. A caracterização da biodiversidade de um determinado grupo biológico em uma escala planetária fornece um contexto ideal para a compreensão da história evolutiva dos organismos, permitindo propor hipóteses robustas de relacionamentos filogenéticos e compreender padrões biogeográficos globais.

Pequeno e expressivo, o primata Mico rondoni merece destaque por ter sido o primeiro mamífero da Amazônia cuja descrição envolveu um trabalho interdisciplinar em morfologia externa e do crânio, biologia molecular, ecologia e comportamento. Durante muito tempo, esse macaco encontrado apenas em Rondônia foi confundido com o Mico emiliae, que ocorre no Pará. Segundo o especialista em mastozoologia, José de Sousa e Silva Jr., faltavam amostras nas coleções para que se desse início a uma análise mais detalhada, mas com o resgate e coleta na área inundada pelo lago da Usina Hidroelétrica de Samuel, o MPEG pôde organizar uma amostra significativa.

“Esse é um trabalho minucioso que requer tempo e amadurecimento para evitar decisões precipitadas. É relativamente comum encontrar na literatura, espécies ‘novas’ que acabaram sendo sinonimizadas porque os autores, na ânsia de publicar descobertas, acabaram por não avaliar direito as amostras”, explica José de Sousa. O pesquisador acrescenta que algumas espécies novas de mamíferos, quase todos primatas, estão em fase de final de investigação, a exemplo do macaco zogue-zogue-rabo-de-fogo.

Biodiversidade pode ser ainda maior – A distribuição de espécies na Amazônia não é aleatória. Diferentes espécies e subespécies ocorrem em margens opostas dos grandes rios, um fenômeno descrito unicamente na região. Ao longo da história evolutiva, alguns rios mudaram o curso e separaram populações que antes habitavam o mesmo ambiente, alguns animais não conseguem atravessá-los e acabam restritos a uma determinada margem. Em longo prazo, o isolamento favorece a diversificação genética. Isso significa dizer que duas populações “separadas” por um rio, por exemplo, não conseguem reproduzir entre si e acabam se diferenciando e gerando novas espécies. 

No estudo Fine-scale endemism of Amazonian birds in a threatened landscape, o ornitólogo Alexandre Fernandes (MPEG) aponta que, rios menores da Amazônia, como os afluentes do Rio Madeira, sobretudo Aripuanã e Ji-Paraná, também delimitam a distribuição de aves. No Ji-Paraná, que está localizado em uma das áreas mais ameaçadas da região amazônica, diversas espécies foram descobertas recentemente e algumas, ainda não descritas, são restritas a pequenos fragmentos de floresta, como por exemplo a Hylophylax naevius, uma nova espécie do guarda-floresta. Este estudo mostra que  os padrões de distribuição e diversidade de espécies ao longo das bacias amazônicas são muito mais complexos e que a diversidade é ainda maior do que se imaginava em regiões altamente impactadas.

As pesquisas envolvendo análises genéticas integradas a outros estudos podem auxiliar a detectar espécies que, à primeira vista, aparentam ser uma só. Recentemente, pesquisadores descobriram o torom-de-alta-floresta (Hylopezus whittakeri), “escondido” entre as populações de torom-carijó (Hylopezus macularius) depois de investigarem diferenciações na genética, na morfologia e no canto. Com as análises genéticas, o número de aves conhecidas no Brasil deve dobrar até 2050. O país já é o segundo com a maior diversidade de aves conhecidas: 1840.  

Em 2013, a edição Handbook of the Birds of the World apresentou, de uma só vez, 15 novas espécies de aves, feito no qual o Museu Goeldi teve um papel fundamental. Das 15 espécies, oito foram descritas por pesquisadores da instituição. Quatorze foram coletadas pelo MPEG e estão depositadas na Coleção Ornitológica, servindo de material para outros especialistas trabalharem. Alexandre Padovan Aleixo, curador da coleção ornitológica do Goeldi e pesquisador do INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia, ressalta que a descoberta de novas espécies é um trabalho contínuo e acrescenta que, em breve, serão apresentadas mais duas aves encontradas na ameaçada Reserva Biológica (REBIO) do Gurupi (MA), região sob grande pressão de ocupação (leia aqui sobre a campanha SOS Gurupi).

Embora cantada em verso e prosa no hino nacional, é sempre necessário lembrar que a riqueza biológica, incluindo as espécies desconhecidas para a ciência, pode desaparecer com os impactos do desenvolvimento econômico não sustentável na região. Alexandre Fernandes aponta que é preciso compreender melhor a complexidade dos ambientes amazônicos. Segundo o especialista, as extensas áreas de endemismo nas quais se baseiam as políticas de conservação na região amazônica não refletem toda a diversidade biológica. Endemismo em escalas menores que o descrito por essas áreas pode ser um padrão comum na Amazônia. Para evitar que espécies endêmicas (que ocorrem exclusivamente em uma determinada área) sumam do mapa, é necessário considerar áreas menores no planejamento ambiental.

Texto: Luena Barros

 

Conheça alguns dos habitantes amazônicos recém-revelados pela pesquisa do Goeldi.

 

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