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Agência de Notícias

Novos habitantes no Parque do Goeldi: sucuri resgatada teve filhotes

Monitorada por técnicos do Museu Goeldi e da UFRA, um exemplar de uma das maiores e mais conhecidas espécies amazônicas deu cria no ambiente protegido do Zoobotânico.
publicado: 21/03/2018 14h00, última modificação: 26/03/2018 16h19

Agência Museu Goeldi – Resgatada no bairro do Tenoné, em Belém, pelo batalhão da Polícia Ambiental (BPA), uma jovem sucuri chegou muito debilitada e machucada ao Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi, poucos meses atrás. E, após ser acompanhada e cuidada pelos técnicos da instituição, a jovem cobra deu cria a 21 filhotes machos. Cinco sobreviveram, sendo que dois precisaram ser ressuscitados.

A nova moradora do Goeldi apareceu na zona urbana na época das grandes chuvas, um período bastante significativo para a reprodução de várias espécies amazônicas, como as sucuris Eunectes murinus, espécie da cobra resgatada.

“Ela foi encontrada no bairro do Tenoné, em Belém, em uma área próxima a residências”, conta Cezar Filipe Silva, cientista ambiental responsável pelo manejo dos répteis do Aquário Jacques Huber, do Museu Emílio Goeldi. De acordo com Cezar, aproximadamente dois meses após a chegada da sucuri, a equipe notou uma diferença no tamanho do animal, que mede cerca de 3,9 metros e tem massa corpórea em torno de 17 quilos. “Logo, veio a suspeita de prenhez, que foi confirmada com um exame de ultrassonografia na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)”, relata Cezar.

Com cicatrizes, a sucuri teve a gestação monitorada por equipes do Museu Goeldi e UFRACuidados - Gravidez confirmada, a sucuri teve sua gestação monitorada, sendo submetida a mais dois exames de ultrassonografia para acompanhar o crescimento dos filhotes no interior da mãe. Sem saber ao certo o tempo que o animal estava gestante, a equipe do Museu Goeldi estimou o período pelos dados do exame, pelo crescimento do animal e pela mineralização dos ossos.

“Tínhamos uma previsão, baseada na observação e na evolução dos exames, de que o nascimento dos filhotes de serpentes seria em abril. Calculei como se ela já estivesse prenhe em torno de dois meses quando chegou aqui”, conta Cezar, que em parceria com a estudante de medicina veterinária Karoline Petrini, do veterinário Antonio Messias Costa, da bióloga Tatiana Figueiredo e da bolsista Ana Letícia Freitas, pode participar deste momento especial e agir para garantir a vida de dois filhotes. Karoline, estudante da Universidade Federal Rural da Amazônia, ressuscitou os filhotes retirando líquidos da traqueia e fazendo massagem cardíaca.

A variação do tempo de gestação das sucuris está relacionada ao ambiente e à temperatura, pois os répteis são animais que não possuem mecanismo para regulação de temperatura, assim, o aquecimento e o metabolismo deles dependem de fatores externos. “Eu acredito que, em vida livre, demoraria mais tempo, porque não há o controle de temperatura e umidade ideal, como ela está tendo aqui”, pondera o cientista ambiental.

A nova moradora do Museu Goeldi foi mantida isolada em uma área restrita, com direito a aquecedor artificial e controlador de umidade. O espaço reduzido evitou que a serpente gastasse energia de forma desnecessária. “Aqui foi bem mais seguro até para os filhotes na hora do nascimento. Durante o nascimento, podemos separá-los com calma, sem riscos de fuga ou de qualquer outro problema externo”, explicou Cezar Felipe.

Durante a gravidez a sucuri não se alimenta e os filhotes em gestação consomem a energia e a gordura da mãe. Os filhotes nasceram com suprimento de gordura suficiente para, no mínimo, um mês.

A equipe do Museu Goeldi está comunicando ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) sobre a chegada dos filhotes. Como gestores da fauna e flora silvestres, será o IBAMA quem decidirá quando e onde os jovens animais serão soltos na natureza.

Sobre as sucuris – Uma das maiores serpentes do mundo, a sucuri vive em ambientes alagados, como várzeas, igapós e margens de rios e igarapés. É uma das maiores serpentes do mundo em comprimento e possui grande mobilidade na água. “Não significa que não possa transitar em outros ambientes. Ela sobe até em árvores”, ressalta Cezar Filipe.

O período de gestação da espécie pode variar de sete meses e meio a noves meses, sendo a época reprodutiva geralmente no segundo semestre e o nascimento dos filhotes sempre no primeiro semestre. “A sucuri tem um comportamento defensivo. É uma serpente considerada, inclusive, tímida. Ela evita contato com humanos, mas, ao sentir-se ameaçada, realmente, pode morder para se defender. No período de gestação o comportamento é bem semelhante. A sucuri pode ter entre dez e 80 filhotes, por gestação, dependendo do tamanho do animal.”, esclarece Cezar.

A família dos Boídeos, da qual as sucuris e as jiboias pertencem, é vivípara. Completamente formados, envoltos apenas por uma membrana. Os filhotes nascem com uma média de oitenta centímetros.

A história desta sucuri é mais um alerta para a perda de habitats das serpentes brasileiras. Segundo uma estimativa de 2015, em três décadas algumas espécies nativas do Brasil já perderam até 80% de área de floresta e de campos que ocupavam em virtude da expansão das cidades e de atividades econômicas, como a agropecuária.

 

Texto: Hojo Rodrigues e Joice Santos, com colaboração de Karolainy Lima.