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Agência de Notícias

O Marajó além do turismo

Pedro Lisboa conta história para ser lida ao som do carimbó, lundu, toadas de bois e pássaros
publicado: 20/05/2013 16h45, última modificação: 13/08/2017 12h17

Agência Museu Goeldi – A riqueza do mundo marajoara sempre influenciou na cultura e no desenvolvimento da Amazônia Oriental. Palco de momentos célebres da história de um estado e seu país, o arquipélago do Marajó é tema de recente livro de autoria do pesquisador Dr. Pedro Luiz Braga Lisboa, A Terra dos Aruã: Uma hstória ecológica do Arquipélago do Marajó. Segundo ele, o livro é uma consideração modesta que pode colaborar às escolas marajoaras, às prefeituras e despertar a curiosidade daqueles que não conhecem o Marajó.

Maior Unidade de Conservação do estado do Pará e do Brasil, o arquipélago do Marajó já é estabelecido por Lei Estadual como Área de Proteção Ambiental (APA) – uma prerrogativa jurídica concedida pelo Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sinasa), desde 1989. A condição de APA torna o arquipélago uma área ecológica protegida oficialmente contra processos de intervenção artificial que possam degradar os ecossistemas.

Encantadoras paisagens de campos alagados, mangues e florestas; cerâmicas ameríndias; multiplicidade de fauna e de flora; considerado, por muitos, um dos mais importantes santuários ecológicos do planeta. A exuberância do local o torna um pólo turístico de alternativas inexauríveis. No final do século XIX, o naturalista Emílio Goeldi disse sobre a fauna e a ilha em geral, que “no meu conceito, merecem o nome de maravilhas”.

O arquipélago do Marajó exerce poder sobre seus visitantes, fazendo despertar o interesse pelas heranças transmitidas por civilizações pré-históricas, os levando para além dos búfalos, dos guarás, das praias paradisíacas, dos queijos, das fazendas ali inseridas desde o século XVII e que contribuem para narrar uma história remota.

A obra registra um “pouco das maravilhas” da localidade, destino turístico mais promissor do Pará, seja através do ecoturismo, do turismo rural e do turismo de massa, que já atrai uma cota significativa de visitantes nacionais e estrangeiros. Como o próprio autor relata no preâmbulo do livro: “Minha intenção, ao escrever este livro, é alcançar além do meio científico, todo o contingente que se interessa pela natureza, educação social e ambiental, e por ciência de resultados passíveis de leitura acessível”.

Inspiração - A produção homenageia o homem que habita os campos, as florestas e as vilas marajoaras. No livro dedicado ao pai, Pedro Lisboa afirma que foi o senhor Luiz Lisboa o responsável por sua paixão pela ilha, aquele que o ensinou a atravessar a baía do Marajó e chegar ao paraíso.

Pesquisador há quase três décadas, freqüenta o arquipélago desde os quatro anos de idade. Para o autor, não era suficiente “gostar da ilha, amar as praias, os campos, as fazendas e admirar a cerâmica”. Chegara o momento inadiável de cooperar efetivamente para que se pudesse colaborar no esforço da educação e que um trabalho servisse também como produto de divulgação das belezas que estão por todos os quadrados da localidade.

“Gostaria que o livro estimulasse as pessoas a conhecerem o arquipélago. É incrível que estando a ilha bem defronte à Belém, muitos paraenses, principalmente os de Belém, não tenham a curiosidade de conhecê-la e não o fazer por coisas tolas, como não enfrentar a travessia da baía do Marajó”, desabafa o pesquisador.

Os aspectos físicos, culturais e científicos da região foram reunidos visando contribuir para divulgar as peculiaridades do local. De acordo com o Dr. Nilson Gabas Júnior, Diretor do Museu Paraense Emílio Goeldi que apresenta do livro, grande parte das informações sobre o Marajó encontram-se em trabalhos isolados. O arquipélago é celeiro de dados científicos e tem permitido atuações de pesquisadores da instituição nas várias áreas do conhecimento. “Apenas as civilizações marajoaras e seu legado da cerâmica vêm sendo alvo desde o século XIX, de estudos de arqueólogos de todo mundo, na busca do entendimento da existência dos Aruã – que inspiram o título do livro”.

Discorrer sobre os “Aruã” pode levar os marajoaras a conhecer as próprias origens caso o livro seja usado para um dos objetivos a que foi escrito: “Para preservar, valorizar e divulgar as riquezas de qualquer lugar é essencial que as suas populações conheçam com alguma profundidade a sua própria história”.

O autor narra em nove capítulos a história da ilha desde os primórdios até a atualidade. Fazendo uso de documentos históricos e fotográficos, os conhecimentos perpassados com a leitura da obra podem ser acessados para finalidades científica e educativa.

 

Para ler A Terra dos Aruã: Uma hstória ecológica do Arquipélago do Marajó

 

A leitura se inicia com parecer sobre a principal característica da ilha: a de ser o maior arquipélago fluvial do mundo. São enfatizados seus recursos hídricos, os solos, o povo, o ecossistema. A “viagem” prossegue com a história da ocupação humana. Aruãs: assim eram denominados os antigos e primeiros homens da ilha, que primordialmente fora uma aldeia indígena das tribos aruanas, local onde padres da província de Santo Antonio fundaram uma missão para fins de catequizar e buscar mais adeptos ao catolicismo. Os capuchinhos evidenciam que os portugueses chegaram às terras, e logo trouxeram consigo escravos. Daí a miscigenação das raças, que resultou na sociodiversidade marajoara de hoje.

Os aspectos históricos são destacados através de fragmentos que focalizam o papel do Marajó em fatos históricos do Pará. O arquipélago foi o local escolhido por aqueles que resistiram ao processo que lutou contra a adesão do estado à Independência do país, entre outros exemplos.

Breves, Soure, Salvaterra, Cachoeira do Arari: alguns dos municípios que compõem o arquipélago são retratados na obra - destacam-se a economia extrativista, projetos de agricultura e a macroeconomia oriunda da pecuária. Sem mencionar também o retrato feito do cotidiano de algumas comunidades quilombolas, as estratégias de subsistência, crenças e o uso dos recursos naturais provindos da região. O Marajó inserido no atual contexto político, econômico e social do Brasil e do mundo globalizado também faz parte desta obra que homenageia um lugar ainda desconhecido até mesmo dos próprios paraenses, dos quais muitos mantêm o saber apenas do que se é contado em livros de histórias e revistas.

Turismo - Uma das missões do livro é divulgar as peculiaridades do arquipélago do Marajó, o qual precisa sim ser reconhecido com um destino turístico, pelo menos em duas áreas prioritárias: o turismo rural e o turismo econômico. Para Pedro Lisboa, o fato do turismo de massa, que já é tradicional na região, ser poluente, o mesmo não deve ser considerado como prioridade.

Do ponto de vista econômico, ainda segundo o autor, a vocação da ilha para a pecuária será sempre limitada, uma vez que a pecuária marajoara não pode hoje competir com as inúmeras fazendas que se multiplicaram no continente depois da implantação de rodovias. A agricultura precisa ser desenvolvida, assim como os projetos sustentáveis de produção de óleos e a ampliação da lavoura do abacaxi e da indústria da pesca sustentável.

No âmbito florestal, Pedro Lisboa elenca que deve ser incrementada a exploração de madeira sustentável no arquipélago. “Todas essas iniciativas são importantes do ponto de vista econômico, porém, sem dúvida, a grande vocação do arquipélago hoje, no contexto da sociedade moderna, que tem a conservação ambiental como prioridade, presta-se ao turismo, que precisa ser executado com prudência, mas sem temor”.

Serviço - Livro: A Terra dos Aruã: Uma hstória ecológica do Arquipélago do Marajó, de Pedro L. B. Lisboa, Museu Paraense Emilio Goeldi, 482 páginas, edição em capa dura, fotografias coloridas, mapas, tabelas e gráficos. Lançamento dia 23 de maio, às 17h, no Auditório do Hotel Gold Mar. Rua Profº Nelson Ribeiro, 132, Telégrafo, Belém/PA. O valor do livro é de R$ 60, a ser vendido no Espaço Ernst Lohse, localizado no Parque Zoobotânico do Museu Goeldi.