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Agência de Notícias

Paisagem, vida e trabalho

Pesquisa descarta noção de paisagem física ao considerar as pessoas como agentes transformadores do ecossistema na mesma medida em que são por ele transformadas. Por meio da Geografia, a Geologia quer compreender como se formam as paisagens amazônidas ao equiparar gente, chuvas, ventos e relevos.
publicado: 22/07/2013 14h00, última modificação: 14/08/2017 11h14

Agência Museu Goeldi - Três tipos de formações vegetais compõem o ambiente físico do município paraense de Quatipuru: mangues, campos inundáveis e terras firmes preenchidas por matas secundárias, fazendo deste município do Nordeste do Pará uma área complexa e rica em informações naturais.

Em meio a ecossistemas tão diversos, situam-se duas comunidades, a do Borges e a da Taperinha, cujos moradores imprimem suas presenças nos ecossistemas por meio, principalmente, do trabalho – a exemplo da criação de gado bubalino - que se beneficia dos campos alagados - e também da pesca. Numa região como a Amazônia, considerada despovoada ao longo da sua história, é de suma importância compreender como as mudanças provocadas pelo elemento humano se inscrevem, assim como as chuvas, as alterações de relevo e as secas e cheias de marés, em um novo conceito de paisagem, conceito esse responsável pela equiparação das dinâmicas humanas aos fenômenos naturais. 

Essa é a abordagem proposta pela pesquisa de Adalberto Silva, estudante do 7º semestre de Geografia, da Universidade Federal do Pará (UFPA), intitulada “Memória, percepção e conhecimento das populações locais do município de Quatipuru sobre a dinâmica natural e antrópica dos ambientescosteiros e subcosteiros”. Orientado pela geóloga Cristina Senna, da Coordenação de Ciências da Terra e Ecologia (CCTE), do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), o estudo faz dos relatos dos moradores das comunidades do Borges e da Taperinha instrumentos decompreensão da dinâmica natural destes ambientes, ocupados desde a antiguidade. “A utilização do termo 'paisagem física' não é apropriada dentro desta abordagem”, destaca Adalberto. 

Diversidade - Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), Adalberto explica que a região de Quatipuru é muito diversificada tanto do ponto de vista ambiental quanto do social, pois apresenta um conjunto de ecossistemas diferenciados, como manguezais, campos inundáveis e salinos, várzeas de marés e restingas, que exigem dos comunitários diferentes técnicas e habilidades de trabalho. Os campos inundáveis, por exemplo, se prestam à alimentação e à manutenção do gado no período de seca, durante o primeiro semestre. Já na estação chuvosa, na outra metade do ano, quando inundam, esses campos fornecem o pescado, empregado principalmente na subsistência dos moradores, assim como acolhem o mesmo rebanho de búfalos. 

Os campos inundáveis constituem-se em ambientes vitais para esses comunitários, pois oferecem a vegetação de gramíneas necessárias à alimentação do gado na seca. No período chuvoso, tornam-se ambientes de circulação dos peixes egressos do encontro e da posterior subida das águas rios Japerica e Quatipuru. “Mas, por meio de levantamento bibliográfico e dos depoimentos dos moradores, foi possível identificar também atividades produtivas desenvolvidas antigamente pelas comunidades em contato direto ou às margens desses campos inundáveis, como o cultivo do arroz, da malva e do tabaco”, conta Adalberto. Segundo o estudante, esses ciclos econômicos perderam a razão de existir quando deixaram de ser interessantes para o mercado – o que comprova a comercialização da produção excedente nas comunidades do Borges e da Taperinha.

 

 

Texto: Antônio Fausto