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Pau-cravo e a herança de Belo Monte

Graças aos estudos de impacto ambiental de Belo Monte realizados há mais de uma década pelo Museu Goeldi na região do Xingu, que hoje abriga as obras da Hidrelétrica, a ciência voltou a encontrar uma espécie de planta que pensava-se extinta: o pau-cravo, umas das drogas do sertão mais super-explorada
publicado: 06/08/2013 14h15, última modificação: 15/08/2017 08h32

Agência Museu Goeldi - Em 2002, durante a elaboração do primeiro Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima) para a construção da Usina Hidrelétrica (UHE) de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará, uma equipe de botânicos do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) encontrou um exemplar de planta que se acreditava extinta há bastante tempo. Trata-se do pau-cravo (Dicypellium caryophyllaceum), árvore nativa da Floresta Amazônica, de cuja casca e inflorescência se retiram a canela e o cravo, respectivamente. Considerada uma droga do sertão, foi explorada quase à exaustão quando o Brasil era uma colônia de Portugal, na época das Entradas e Bandeiras. Daí o porquê de muitos dos botânicos da atualidade só saberem da existência dessa espécie por relatos da literatura científica, sem nunca terem conferido-a de perto.

Então sob a responsabilidade da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp), o EIA/Rima de Belo Monte foi cancelado pela Justiça e só foi retomado em 2008, pela Leme Engenharia. A empresa contratou o MPEG para o levantamento da biodiversidade da região, quando foram encontrados mais dois indivíduos de pau-cravo, aumentando para três o número de exemplares dessa espécie conhecidos pela ciência. ”As pessoas nem conhecem mais o pau-cravo”, afirma Rafael P. Salomão, pesquisador do Museu Goeldi. Para ele, houve uma "erosão" do conhecimento. Coordenador dos estudos que resultaram nos achados de 2002 e de 2008, Salomão destaca a relevância dessas descobertas para as pesquisas do Museu. “É importante por se tratar de uma espécie de alto valor comercial que só ultimamente foi reencontrada”. 

O pesquisador acredita que a população de pau-cravo remanescente de Vitória do Xingu, na área diretamente afetada (ADA) do empreendimento, na região do Xingu foi perdida com o início da construção da Usina Hidrelétrica (UHE) de Belo Monte sem que nada tenha sido feito para salvá-la, apesar do fato constar em relatórios institucionais do Museu, de estudos de impactos ambientais (EIA), de relatórios de impacto do meio ambiente (RIMA) e de matéria publicada na revista Ciência Hoje (nº 289), em fevereiro de 2012. Espera que o mesmo não ocorra com as cerca de 250 árvores encontradas nos últimos cinco anos na comunidade de São Francisco de Aruã, em Juruti. Nessa área, o Museu Goeldi empreendeu estudos sobre o pau-cravo, a maçaranduba (Manilkara huberi) e a castanheira (Bertholletia excelsa) para atender orientações estipuladas pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) do Pará para atendimento a condicionantes ambientais pela Alcoa Word Alumina Brasil Ltda. naquele município do oeste Paraense. “Essa era uma das áreas de ocorrência de pau-cravo, pau-rosa (Aniba rosaeodora), maçaranduba e castanheira, espécies ameaçadas do estado do Pará, de acordo com a Resolução SEMA 054/2007 e que constituíam o foco dos estudos solicitados pela Sema e realizados pelo Goeldi”, explica Salomão.

 

Texto: Antônio Fausto