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Agência de Notícias

Pesquisadores alertam sobre a situação no Marajó

"O afrouxamento do isolamento social no estado como um todo nos deixa preocupados”, comenta a coordenadora da pesquisa, a ecóloga Ima Vieira, do Museu Paraense Emílio Goeldi. Entre 18 e 31 de maio, o número de pessoas contaminadas na região passou de 945 para 2.233 e o de óbitos, de 106 para 162.
publicado: 15/06/2020 10h30, última modificação: 15/06/2020 10h30

Agência Museu Goeldi - Um grupo de pesquisadores divulgou no dia 04 de junho uma nota técnica com o “Panorama da COVID-19 nos municípios do Marajó, Pará”. Coordenado pela pesquisadora Ima Célia Guimarães Vieira, do Museu Paraense Emílio Goeldi, o estudo alerta para o elevado aumento do número de infectados nessa região no mês de maio.

“De fato, o atual cenário no Marajó mostra que o número de pessoas infectadas nos municípios aumentou muito no mês de maio de 2020. Por exemplo, na semana de 21 a 26 de abril, houve um aumento de 260% no número de casos confirmados e de 400% no número de óbitos, que culminaram em 147 infectados e 19 óbitos no dia 1º de maio. No período de 18 a 31 de maio, o número de casos passou de 945 para 2.233 e o número de óbitos de 106 para 162, um aumento de 136% e 53%, respectivamente. Os casos acumulados até 31 de maio de 2020 já somam cerca de 2.300 e as mortes equivalem a 7% dos casos confirmados”, aponta o documento.

Entre os municípios mais atingidos, Breves é o que possui o maior número absoluto de casos confirmados de COVID-19 e de óbitos. Com população estimada de 102 mil habitantes em 2019, o município possui a taxa de 509 casos e de 60 mortes por 100 mil habitantes. Proporcionalmente, o pequeno município de Santa Cruz do Arari também se destacou, por registrar o equivalente a uma taxa de 563 infectados e 69 mortes por 100 mil habitantes.

A pesquisa também é assinada por Fabiana Pereira, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais; Diogo Ferraz, professor da Universidade Federal Rural da Amazônia; Carlos Ramos, consultor de projetos socioambientais.

"O afrouxamento do isolamento social no estado como um todo nos deixa preocupados. Os casos de contaminação estão aumentando e a base hospitalar e de saúde, em geral, é muito fraca para atender à população. O Hospital de Campanha de Soure ainda nem começou a ser construído. Então, a previsão é de aumento no número de casos. Sem atendimento adequado, o número de óbitos pode aumentar muito", afirma Ima Vieira.

Confira um resumo com as principais informações contidas na Nota Técnica:

Marajó - Território de 10,4 milhões de hectares, o Marajó é composto por 16 municípios e 564 mil habitantes em 2019, sendo uma região muito rica em diversidade social, cultural e biológica. É o maior arquipélago fluviomarinho do planeta.

Formada por inúmeras ilhas, a região concentra um vasto cenário de riquezas naturais, de histórias e de patrimônios culturais, mas possui indicadores socioeconômicos muito abaixo das médias do estado e do país.

Pandemia - O Marajó registrou no dia 14 de abril o primeiro caso de COVID-19, no município de Afuá. A pandemia trouxe à tona os grandes problemas enfrentados pela população local, como o baixo acesso a serviços de saúde e saneamento básico, a escassez de renda e trabalhos informais desempenhados na rua, entre outros.

O cenário atual é de espalhamento do vírus pelo interior da Amazônia. Entre os fatores que agravam a situação estão o trânsito de pessoas entre interior-capital para vários fins, incluindo o recebimento de auxílio emergencial do governo federal; a aglomeração e a falta de fiscalização de barcos, lanchas e balsas; e o descumprimento das recomendações de isolamento social e uso de máscaras.

Como evidenciam alguns estudos feitos no Amazonas, as viagens de barco podem aumentar consideravelmente a difusão da doença para o interior da Amazônia, o que aumenta a necessidade de suspensão das atividades portuárias e da maior fiscalização do transporte fluvial.

 Cenário - O atual cenário da pandemia no Marajó é de rápido aumento do número de pessoas infectadas e de mortes.

Os dados do Sistema de Informações do Sistema Único de Saúde (Datasus) confirmam a desigualdade de equipamentos e capital humano no sistema hospitalar do Marajó.

Segundo o Datasus, toda a região do Marajó possui apenas 50 médicos. Entre os 16 municípios, apenas cinco possuem respiradores (Breves, Soure, Gurupá, Bagre e Melgaço) e há apenas sete UTIs em toda a região, localizadas em Breves. São 176 leitos disponíveis no total, distribuídos entre os 16 municípios.

Relacionando o uso da estrutura hospitalar com o número de casos confirmados e óbitos por coronavírus, as análises mostram que 50% dos municípios do Marajó estão próximos do limite hospitalar.

Segundo a nota, os municípios de São Sebastião da Boa Vista, Anajás e Bagre apresentam uma situação preocupante.

A inexistência de respiradores na maioria dos municípios na região também prejudica o aproveitamento do sistema hospitalar local em relação à pandemia, pois há dependência de outros municípios em relação a Breves, que concentra 25% dos casos confirmados na região.

“Isso torna o melhor sistema hospitalar regional vulnerável, o que pode impossibilitar o atendimento de pacientes de outros municípios próximos. Situação semelhante ocorre em relação ao número de médicos e leitos clínicos do SUS. A despeito da construção do hospital de campanha em Breves, inaugurado em 11 de maio de 2020, o sistema de saúde na região continua a funcionar de forma precária, pois não consegue atingir os municípios mais longínquos”, consideram os autores.

Taxa de letalidade -A taxa de letalidade pelo coronavírus tem aumentado na região. A maior taxa pode ser encontrada em Cachoeira do Arari (15,79%), onde não há respiradores e o número de mortes é 17 vezes maior do que no ano passado.

Os municípios de São Sebastião da Boa Vista (13,51%), Santa Cruz do Arari (12,28%), Breves (11,48%) também apresentam altas taxas de letalidade por COVID-19.

Medidas necessárias - Entre as medidas destacadas pelos autores, estão: 1) a garantia de renda emergencial básica para assegurar o distanciamento social, 2) a implantação de políticas públicas de melhoria da infraestrutura hospitalar nos vários municípios e em especial em Breves, que recebe pacientes de outros municípios; 3) a discussão dessas políticas com as lideranças comunitárias, a fim de uma melhor compreensão da realidade local; 4) a suspensão das atividades portuárias e maior fiscalização do transporte fluvial e 5) o tratamento do esgoto sanitário, para evitar o aumento das contaminações por rios e igarapés da região.

Campanha Marajó Vivo - Diante desse cenário, o Museu Goeldi, o Museu do Marajó, a Prelazia do Marajó, a Diocese de Ponta de Pedras, a Irmandade do Glorioso São Sebastião, a Fundação pela Inclusão do Marajó, o Observatório de Direitos Humanos e Justiça Social do Marajó, vinculado à Universidade Federal do Pará (UFPA), e o Instituto Iacitata Amazônia Viva uniram-se na Campanha Marajó Vivo como uma rede de solidariedade em torno de ajudar os mais vulneráveis no combate ao coronavírus. Hoje, a iniciativa já conta com mais de 20 organizações e cerca de 50 voluntários trabalhando em todos os municípios da região para salvar vidas.

“A Campanha Marajó Vivo, assim como outras iniciativas, está ajudando com doações de equipamentos de proteção aos hospitais, cestas básicas, máscaras e materiais de higiene pessoal para as comunidades rurais e urbanas. Além disso, nos empenhamos para ofertar informações e campanhas educativas junto a esses públicos”, explica a pesquisadora Ima Vieira, que integra a iniciativa.

Para saber como participar, entre em contato pelos números (91) 99989-6061, 98821-6263 e 98254-0882.

 

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