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Registros que narram histórias indígenas

Indígenas e não indígenas se tornam multiplicadores em métodos e técnicas de produção audiovisual sobre o patrimônio cultural indígena
publicado: 13/11/2013 11h00, última modificação: 22/08/2017 14h06

Agência Museu Goeldi – O Centro de Documentação Permanente de Línguas e Culturas Indígenas da Amazônia, projeto da Coordenação de Ciências Humanas do Museu Paraense Emílio Goeldi (CCH/MPEG), realizou no início do mês de novembro de 2013 oficina de áudio e vídeo em documentação indígena. Aproximadamente 20 estudantes de Graduação, em sua maioria de Letras, dentre eles 11 indígenas, participaram desta que foi a quarta oficina já realizada pelo projeto, onde puderam aprender técnicas de filmagem e edição de vídeo-documentário. 

As oficinas são uma estratégia de sensibilizar e capacitar os participantes para técnicas, métodos e equipamentos adequados à documentação do patrimônio cultural que não pertence apenas às comunidades indígenas, mas a toda sociedade.

Com representantes de quatro etnias localizadas no Pará: Kayapó, Tembé, Mundurukú e Kaxuyana, a oficina promoveu o contato direto com pesquisadores do Museu Goeldi que vão a campo. Muitos dos participantes do treinamento já fazem a documentação através de registros em vídeo que contribuem para contar a história de um povo.

Entre os palestrantes, pesquisadores do Museu Goeldi como Denny Moore, Doutor em Linguística e Antropologia Cultural e o Doutor em Antropologia Médica, Glenn Shepard.

As oficinas de documentação incentivam os próprios indígenas a realizarem a documentação, salvaguardando no tempo, eventos, músicas e crenças próprios de suas etnias, e assim contribuir para a valorização de suas línguas e culturas. Ana Vilacy Galúcio, lingüista, pesquisadora e chefe da Coordenação de Ciências Humanas do Goeldi, diz que a ideia é ensinar como fazer registros válidos para estudos, pesquisas e divulgações científicas e mostrar que não é uma tarefa difícil.

O Projeto – A Doutora em Linguística, Ana Vilacy Galúcio, Coordenadora de Ciências Humanas do Museu Goeldi, coordena o Projeto Centro de Documentação Permanente de Línguas e Culturas Indígenas da Amazônia, implantado, em 2009, com recursos do Ministério da Justiça, por meio do Conselho Federal Gestor do Fundo de Direitos Difusos (CFDD). Ana Vilacy contou que um dos objetivos do projeto é preservar o acervo lingüístico da Coleção Científica do Museu Goeldi que é um dos maiores do país, com cerca de 1.300 itens coletados desde o final da década de 1970.

Segundo a pesquisadora, o Projeto Centro de Documentação Permanente de Línguas e Culturas Indígenas da Amazônia surgiu da necessidade de se garantir o acesso e uso a todo o material disponível no acervo do Museu com o registro de quase 70 línguas indígenas. Com a implantação do Centro todo o acervo lingüístico está sendo transferido para um servidor digital. E assim, busca-se garantir que esse material não se perca ao mesmo tempo em que novos itens são incorporados através da contínua documentação conduzida a cada pesquisa.

Documentar para preservar – Rosileide Costa, consultora de TI para o Acervo de Línguas Indígenas do Museu Goeldi, coordenou a oficina. “Nossa maior preocupação é quebrar as barreiras que se possa ter dos indígenas com os equipamentos tecnológicos”, revela. Esta tarefa já não é tão complicada, já que muitos têm acesso a celulares e câmeras fotográficas.

Segundo Rosileide Costa, introduzir técnicas de documentação da língua era também o foco do treinamento. Uso dos equipamentos, técnicas de filmagem, edição direta em câmera foram outros dos tópicos abordados. Rosileide explica que é muito conteúdo para ser repassado em uma semana, mas garante que a preocupação da maioria dos participantes indígenas, é com a necessidade da documentação, o que representa fator de motivação. “Os indígenas são extremamente preocupados com esse tipo de documentação então eles se esforçam ao máximo para capturar o que estava sendo passado”, explica.

Preocupação com a filmagem – O antropólogo Glenn Shepard destaca o aprendizado acerca da edição de um vídeo, mas ressalta outro cuidado: a qualidade estética. É preciso que o registro seja feito com o melhor som, o melhor enquadramento e o melhor foco, elementos que garantem a qualidade da gravação, da filmagem.

Glenn Shepard comenta como é importante a troca de experiências entre as diferentes etnias, que muito contribui na hora de produzir um vídeo e revela que índios Kayapó que já têm treinamento e experiência em filmagem e edição de vídeos já produzem e compartilham o material com suas comunidades.

Bepunu Kayapó, participante, dessa vez saiu com certificado de instrutor e se enche de expectativa ao falar que realiza filmagens para registrar seus costumes e crenças, as festas e acontecimentos para que as crianças de sua comunidade tenham conhecimento de como um dia já se viveu naquela comunidade. “Os velhos não irão durar para sempre, por isso eu mesmo estou fazendo filmes para que as próximas gerações tenham acesso a sua própria história”, disse o aluno-instrutor Kayapó.

No último dia da oficina, houve apresentação dos vídeos produzidos e a entrega de certificados aos participantes. Os vídeos contam um pouco da cultura indígena narrada pelos próprios participantes da oficina. Ao final, cópias do material foram disponibilizadas para que as comunidades assistam. Cópias também passaram a integrar o acervo do MPEG.

Saiba mais sobre as pesquisas em Linguística.

Para detalhes sobre o trabalho do Centro de Documentação, veja matéria em edição do jornal Destaque Amazônia

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Texto: Júlio Matos