Você está aqui: Página Inicial > Notícias > Tempo de nascimento no Parque do Museu Goeldi
conteúdo

Agência de Notícias

Tempo de nascimento no Parque do Museu Goeldi

A época das chuvas é quando mais se nasce no Parque Zoobotânico. Saiba mais sobre os cuidados no manejo dos filhotes.
publicado: 01/03/2016 13h45, última modificação: 19/02/2018 14h20
Exibir carrossel de imagens Nathália Fonseca Tartaruga-da-amazônia

Tartaruga-da-amazônia

Agência Museu Goeldi - O inverno amazônico é a época de berçário para a fauna do Parque Zoobotânico do Museu Goeldi. Uma quantidade significativa de espécies - como os guarás (Eudocimusruber), as tartarugas-da-amazônia (Podocnemisexpansa) e o gavião-real (Harpia harpyja). Seus ciclos reprodutivos são marcados por esse período, e o motivo é a grande oferta de alimentos na natureza. Outros aspectos que influenciam os nascimentos são a luminosidade do ambiente e o calor, que indicam quão propício o meio está.

Primeiros cuidados - Os 400 filhotes que habitam hoje o Parque vêm ganhando novas companhias: os primeiros guarás da estação nasceram há 2 meses. Os gaviões-reais, por sua vez, já estão acasalando: “As expectativas estão altas em relação a isso e também há uma perspectiva de acasalamento das ariranhas”, diz Messias Costa, veterinário do Serviço do Parque Zoobotânico. A atenção às ariranhas (Pteronura brasiliensis) é mais que justificada: a espécie hoje está entre as mais vulneráveis no Brasil,e é ameaçada de extinção. Como o fator mais importante para a sobrevivência dos filhotes em cativeiro é a alimentação, o cuidado com a comida dos pequenos deve ser redobrado.

400 filhotes vivem no Parque, incluindo os te tartarugas-da-amazôniaOs filhotes de herbívoros, como o bicho-preguiça, dependem do colostro, o leite das primeiras 24 horas após o nascimento. Isso acontece porque, diferentemente dos carnívoros, eles não recebem tantos anticorpos da placenta. Sem o primeiro leite, muitos herbívoros têm dificuldade de combater bactérias e vírus causadores de doenças. As espécies também se desenvolvem de forma diferente, dependendo da forma de gestação.

Período de gestação - Contudo, o período reprodutivo no inverno não é regra. As oscilações de temperatura e a alteração da sazonalidade de alguns alimentos, no decorrer de anos - ou até décadas -, podem culminar no atraso do período reprodutivo de algumas espécies. Notou que as chuvas atrasaram esse ano? Isso aconteceu porque o fenômeno climático do El Niño, o aquecimento das águas do pacífico próximo à linha do Equador, se consolidou antes do normal. Em outubro passado, as temperaturas máximas no Pará estiveram 1,4º C acima da média histórica do mês. Se os animais sentirem que o ambiente não oferece condições para suprir as necessidades dos filhotes, alguns deles podem adiar o período de acasalamento.

Além disso, a presença de filhotes já nascidos também pode impedir os animais de entrarem em um novo período fértil - ou mesmo diminuir sua atratividade para os possíveis parceiros de acasalamento. Os macacos-aranha (Atelespaniscus) costumam passar um ano com as novas crias para, só assim, acasalar novamente.

Isso acontece porque a maior parte dos mamíferos passa muito tempo se alimentando basicamente de leite. Nesse período da amamentação, as fêmeas se dedicam aos cuidados com os filhotes e não costumam entrar no cio. Nesse aspecto, a exceção é a anta (Tapirusterrestris), o maior mamífero terrestre brasileiro. A gestação de 400 dias do animal faz com que o filhote já nasça bem desenvolvido. O número de predadores e a lentidão do animal justificam essa estratégia evolucionária. Tudo para garantir a preservação da espécie.

Indicativos – Os registros de nascimentos no Parque Zoobotânico do Museu Goeldi são um bom indicativo da qualidade do manejo dos espaços e dos animais - especialmente por acontecerem “no coração da cidade”, ressalta o veterinárioMessias Costa. “É um processo diferenciado, porque os animais trazem para o cativeiro a leitura que têm da natureza”.

O Museu Emilio Goeldi tem a consciência da importância da reprodução de espécies ameaçadas de extinção que habitam o Parque Zoobotânico. Fora do cativeiro, os nascimentos são ainda mais importantes. Eles contribuem para a multiplicação de espécies, o que leva ao reequilíbrio ecológico.

 

Texto: Juliana Araújo