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Um espaço popular de ciência no coração da cidade

O Zoobotânico do Museu Goeldi é um ambiente histórico de pesquisa, educação e turismo em Belém e conquistou um lugar cativo na vida das pessoas através de uma trajetória secular de tradição e contemporaneidade. A visitação crescente, a procura para games, portfólios e mostras de arte indicam a popularidade do Museu
publicado: 06/09/2016 16h00, última modificação: 20/02/2018 12h46

Agência Museu Goeldi - Com muita história para contar, o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) inicia as comemorações do seu sesquicentenário celebrando seu Parque Zoobotânico, pioneiro de seu gênero no Brasil e que foi criado em 1895. Grande parte da história do Museu Goeldi foi construída neste ambiente, que atualmente possui 5,4 hectares e comporta 1.790 espécimes de animais, soltos e em viveiros, além de exemplares de mais de 500 espécies vegetais.

A coleção de plantas foi organizada pelo botânico suíço Jacques Huber, que o concebeu como um banco genético vivo associado a uma mostra plural da fauna amazônica. Desse modo, o então Museu Paraense de História Natural e Etnographia trouxe para o coração da capital do Pará uma considerável diversidade vegetal e faunística. Em 1897, o Parque do Museu já apresentava ao público mais de 530 plantas.

A variedade de espécies de plantas apresentada hoje pelo Museu Goeldi também foi garantida por outro grande botânico, Paulo Cavalcante, que começou seu trabalho na instituição na década de 1960.

“Paulo Cavalcante foi um cientista que coletou muito, viajou para lugares muito inóspitos, onde há uma flora endêmica muito característica. Ele procurou diversificar e introduzir o máximo de espécies e isso não deixa de ser um experimento também”, explica o historiador Nelson Sanjad, pesquisador do MPEG.

História de pesquisa - Quando foi inaugurado há 150 anos, o Museu Paraense concentrava toda sua estrutura dentro do Parque Zoobotânico - hoje, além do Campus de Pesquisa também em Belém, a instituição conta uma estação científica na Floresta Nacional de Caxiuanã, no arquipélago do Marajó, e um campus avançado no estado do Mato Grosso.

Mesmo com as mudanças ao longo do tempo, o Parque Zoobotânico sempre manteve seu caráter experimental. Nelson Sanjad destaca as experiências pioneiras de Jacques Huber com as árvores gomíferas (produtoras de látex), no início do século XX, e os estudos de Carlos Estevão de Oliveira com a piscicultura, na primeira metade do século passado.

Jacques Huber estudando os cortes da seringueiraEm relação às plantas de grande valor estratégico e econômico para a Região Amazônica, como as gomíferas, Huber investigou especialmente a seringueira (Hevea brasiliensis). O botânico analisou desde as infecções por fungos até a sangria - método de corte para a extração do látex, que apresentava basicamente dois modelos: o amazônico (também conhecido como espinha de peixe) e o oriental (infusões mais espaçadas umas das outras).

“Dentro do Parque Zoobotânico foram testados seis processos de defumação do látex porque o processo tradicional, feito com sementes de urucurí, prejudicava a saúde dos seringueiros. Quando elas são queimadas em contato com o látex, produzem um gás que é venenoso. Então era frequente que a saúde dos seringueiros fosse abalada, tanto no aparelho respiratório quanto com os casos de cegueira por esse gás”, explica Sanjad.

Outra pesquisa de grande porte que faz parte da história do Parque é a experiência com a piscicultura, coordenada entre os anos 1930 e 1950 pelo então diretor da instituição, o pesquisador Carlos Estevão de Oliveira. “Na época, o governo do Getúlio Vargas fez uma articulação de ações entre a Amazônia e o Nordeste. Eles precisavam de uma instituição que pesquisasse e desse início à reprodução de alevinos na nossa região e o Museu Goeldi foi escolhido para liderar isso. Aqui foi estudada a reprodução dos peixes amazônicos, produziam-se os alevinos no Parque Zoobotânico, que eram enviados a uma série de empreendedores que estavam começando a criação desses peixes em cativeiro”, contou Nelson Sanjad.

Espaço de conhecimento - O agrônomo Amir Lima, coordenador do setor de flora do Parque, explica que nos últimos anos as pesquisas com plantas foram voltadas para famílias específicas, como as palmeiras, que formam “coleções especiais”.

Estudos de espécies da flora em extinção e o acompanhamento do desenvolvimento das plantas recém-introduzidas também são realizados no Parque. A coleta e a introdução de espécies neste espaço configuram pesquisas que o agrônomo considera primordiais para a manutenção da produção de conhecimento no local. “Desde o início o Museu é assim. Apesar de parecer simples, eu gosto muito porque é a essência do Parque Zoobotânico”, resume Amir.

Os estudos com a fauna do Parque, coordenados pelo veterinário Messias Costa, contribuem para a produção de conhecimento sobre animais silvestres e o manejo destes. A equipe também estuda fatos isolados e publica os resultados, como é o caso dos macacos sagui-una (Saguinus niger). “Toda vez que chega no Parque um macaco desnutrido, ele apresenta um quadro de automutilação. Pesquisamos o controle desse fenômeno com ansiolítico, uma substância tranquilizante”, explica o veterinário.

Em números - O Parque Zoobotânico é um dos espaços mais procurados pelo público em Belém. Mesmo com o crescimento das opções de lazer na cidade, a visitação do zoobotânico do Museu Goeldi tem aumentado em comparação aos anos anteriores.

Época de grande movimento de turistas, o mês de julho sempre contabiliza o maior número de visitantes. Em 2014 e 2015, os índices de público foram superiores a 15 mil. Este ano, o Museu Goeldi encerrou o mês de férias escolares com a marca de 34.057 visitantes, mais que o dobro dos resultados passados.

Além dos atrativos das coleções vivas de fauna e flora, as pessoas buscam o Parque Zoobotânico do Goeldi para conhecer exposições de ciência e arte. Em julho de 2016, 20.642 visitantes contemplaram as exposições “A Festa do Cauim” (que aborda os ritos de passagem da etnia indígena Ka’apor), “Filhos da Mata” (com obras do artista paraense Sebá Tapajós sobre sua intervenção na Ilha do Combu) e “Origens: Amazônia Cultivada” (30 anos de estudos arqueológicos na região de Carajás, que apresentam indícios de como as populações humanas conformaram a paisagem florestal daquela região).

O mês de agosto também manteve um bom índice de visitação: o Goeldi registrou o total de 19.089 visitantes. Durante este mês, a equipe de educadores realizou atividades variadas movimentando o Parque Zoobotânico, que completou 121 anos de criação.

Nas PokéStops, treinadores ganham pokébolas entre outros itensNo touchscreen – As mídias sociais do Museu Goeldi apresentam aos seus seguidores outras formas de relacionamento com a instituição. Atualmente, o Goeldi utiliza plataformas como o Facebook, Twitter, Youtube e seu Portal próprio para oferecer ambientes virtuais onde públicos diversos têm acesso à divulgação de atividades e pesquisas, além de uma aproximação mais íntima com a instituição. Informação, brincadeiras e produção de conteúdo multimídia têm movimentado o interesse dos seguidores, como é o caso do projeto Viva Amazônia - material seriado que conjuga jornalismo, vídeos, design e interação com o público das mídias sociais.

O Museu Goeldi também está inserido em grandes fenômenos virtuais da atualidade. É o caso do Pokémon Go. O jogo de realidade aumentada de maior sucesso no momento incrementou a relação entre o Museu e seu público, mediada pelas telas de celulares.

O interior do Parque Zoobotânico é um campo livre para os “treinadores Pokémon” capturarem os personagens virtuais e recarregarem seu estoque de Pokébolas nos PokéStops, localizadas em pontos estratégicos do Zoobotânico como: o busto do fundador do Museu, Domingos Soares Ferreira Penna; o pavilhão expositivo da Rocinha e o monumento em homenagem ao centenário de nascimento do ex-diretor do MPEG, Carlos Estevão de Oliveira.

A postagem do dia 4 de agosto no perfil do Museu no Facebook anunciando “novas espécies” no Parque e orientando os “treinadores” para a prática do Pokémon Go no Zoobotânico provocou 2.200 reações, 247 comentários e uma quantidade superior a mil compartilhamentos em pouco mais de cinquenta horas. A divulgação online estimulou a visita de mais de 2.500 pessoas ao Parque Zoobotânico apenas na manhã de 7 de agosto – eram caçadores em famílias, grupos de jovens e casais de namorados.

Também em agosto o Museu Goeldi virou rota da CowParade Belém, uma exposição de arte pública composta por vacas de fibra de vidro ilustradas por artistas locais. A obra “Vaca Marajorara”, concebida pelo artista plástico Kambô, está localizada em frente ao Parque Zoobotânico.

Destino turístico – Turistas são uma parte significativa do público do Museu Goeldi. A paulista Áurea Simão, que visitou Belém em julho, explicou à reportagem que escolhe visitar museus botânicos, zoológicos e outros espaços que oferecem contato com a flora local, especialmente com plantas que desconhece. Ela passeava no Parque Zoobotânico com seu filho.

A Ara Macao fez parte da série "Viva a Fauna Livre" e atrai turistasUm grupo de missionários escolheu especialmente o Museu Goeldi como um dos pontos turísticos que iriam visitar durante as horas livres. Padre Murphy, norte americano que estava com o grupo, gostou muito dos animais. “Esse pássaro vermelho é muito bonito” disse, fazendo referência à araracanga (Ara macao) - oito espécimes da ave podem ser vistos no Parque Zoobotânico, integrados à fauna livre e em viveiros.

A equipe técnica do MPEG alerta ao público sobre os cuidados na interação com plantas e animais. O veterinário do Parque Zoobotânico Messias Costa informa que “o público visitante pode ver este animal em algumas árvores do Parque, entretanto deve-se manter distância, pois uma eventual bicada pode causar sérias lesões”.

Embora localizado em Belém, o Parque do Museu também é frequentado constantemente por moradores de outros municípios do Pará. No último levantamento feito pela Coordenação de Museologia, os moradores de Ananindeua, Vigia e Santo Antonio do Tauá foram apontados como os que mais frequentam o Museu.

O Parque hoje – Ao celebrar 150 anos, o Museu Goeldi está lutando para revitalizar seu Parque Zoobotânico, buscando implementar integralmente o conceito de Bioparque, um local onde se valoriza não apenas os elementos isolados da variedade de espécies da fauna e da flora, mas as relações de dependência e interatividade entre eles. É um desafio amazônico. E para tornar isso viável, a instituição está em busca do apoio da sociedade e de governos – as primeiras adesões foram o Instituto Peabiru, o Banpará, a Imerys, o projeto de Tudo de Cor das Tintas Coral, a cantora Fafá de Belém e o Governo do Pará (através da Susipe, Propaz e Fasepa). Clique aqui e saiba mais sobre o programa ProGoeldi.

Texto: Juliana Araujo, Joice Santos e João Cunha